.comment-link {margin-left:.6em;}

Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

terça-feira, setembro 27, 2005

ENTREVISTA
HÉDIO SILVA JÚNIOR

"No Brasil, negro em
avião é estrangeiro"
Apesar disso, o secretário de Justiça
de São Paulo diz que a sociedade
mudou muito nos últimos 25 anos e
até admite discutir o racismo


PERFIL:
• Formado pela Universidade São Judas, com mestrado e doutorado em direito pela PUC-SP, tem 44 anos e nasceu em Três Corações (MG). Consultor da Unesco, do PNUD e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade da Presidência da República (Sepir), ocupou a coordenação da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP.

Cláudio Camargo e Chico Silva (*)

Até os 15 anos, o mineiro Hédio Silva Júnior foi servente de pedreiro. Quando tinha 12 anos, sofreu uma das piores discriminações de sua vida, ao ser injustamente acusado por uma professora de português – disciplina que ele adorava – de, junto com outro amigo negro, ser o responsável por um furto na sala do diretor. Mas ele não abaixou a cabeça: militou no movimento negro, formou-se em advocacia pela Universidade São Judas, doutorou-se pela PUC-SP e tornou-se conhecido pela luta em defesa dos direitos humanos e da igualdade racial. Em 16 de maio, Hédio Silva tornou-se o primeiro negro a ocupar a Secretaria de Justiça e de Defesa da Cidadania, que, entre outras funções, cuida da espinhosa questão da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem), cujo modelo, o secretário admite, “é ultrapassado e tem que ser mudado”. Cheio de idéias para a nova função, como a criação de uma defensoria pública que ajude a população carente, Hédio disse em entrevista a ISTOÉ que sua ascensão revela uma nova percepção dos políticos para a questão racial, defende o sistema de cotas para negros nas universidades e diz que não tem outra aspiração política que a de “ser um bom secretário”.

ISTOÉ – O que motivou o governador Geraldo Alckmin a indicar uma pessoa
que veio do movimento negro para o cargo de secretário da Justiça? E qual
a sua expectativa em relação ao trabalho nessa pasta?

Hédio Silva Júnior – O governador quis ter na equipe uma figura que trouxesse o legado de interlocução com entidades da sociedade civil, que é a minha marca. Tenho uma trajetória de 25 anos nos movimentos sociais. Acredito que o governador estava mirando um fortalecimento no diálogo com essas entidades, notadamente aquelas que trabalham contra a discriminação e pela defesa da igualdade racial e de gênero. O que talvez facilite é que, pela primeira vez, um secretário de Justiça traz na bagagem esse trânsito com as organizações sociais.

ISTOÉ – Isso porque, historicamente, o governo tucano de São Paulo tinha dificuldades para dialogar com esses movimentos?
Hédio – Durante muito tempo, essa idéia de movimento social no Brasil estava vinculada à esquerda. Hoje, esse quadro pode estar sofrendo alterações. A Associação da Parada Gay de São Paulo, por exemplo, não tem explicitamente uma inclinação para esse ou aquele lado do espectro político. É possível que a esquerda tenha perdido uma certa hegemonia que deteve durante muito tempo em algumas formas de organização social. O próprio movimento negro não traz mais o selo partidário de 20 anos atrás. Naquela época, seria uma heresia admitir um vínculo com um partido tido como liberal ou mesmo conservador. Hoje, é absolutamente normal que isso aconteça.

ISTOÉ – Quais os maiores desafios que o sr. terá à frente da secretaria?
Hédio – São muitos. Mas estamos trabalhando. Recentemente, o governador enviou à Assembléia Legislativa o projeto que cria a defensoria pública de São Paulo. Nossa idéia é que o Estado tenha uma procuradoria de assistência judiciária para fazer a defesa da população carente. Desejamos também ampliar os canais de diálogo e participação com a sociedade civil. Os movimentos sociais cada vez mais têm ido à Justiça disputar a execução ou a concretização de certas políticas públicas previstas em lei, mas que não são cumpridas. A secretaria tem um trabalho de mediação e convênios com essas instituições, preparando seus advogados para lidar com esses temas. E temos o grande desafio de reverter uma imagem negativa que a Febem acabou adquirindo nesses anos.

ISTOÉ – É inquestionável que a Febem tornou-se um modelo esgotado. Quais as razões que a levaram a essa situação?
Hédio – É um modelo montado há 20, 30 anos, que associava o tratamento do adolescente infrator a um sistema prisional convencional. É o discurso de uma parcela minoritária, mas ainda barulhenta, de funcionários que pleiteiam a manutenção de um modelo antigo e ultrapassado de prisão. É, sobretudo, a cultura da internação. Em São Paulo há o entendimento, por parte do Judiciário e do Ministério Público, de que a única solução possível para delitos e infrações leves é a internação. Por isso, temos que romper com esse modelo, que se revelou absolutamente ultrapassado, e passar para um novo, que certamente irá enfrentar resistências e dificuldades.

ISTOÉ – E como será essa nova Febem?
Hédio – Uma Febem descentralizada, para garantir que o adolescente fique o mais próximo possível de sua casa. Que ofereça a ele um bom programa de escolarização regular e de capacitação profissional. Que separe adolescentes por idade, compleição física e gravidade do delito cometido. A Febem deve também ser seletiva. Ela deve receber somente aqueles adolescentes que, no parecer do Judiciário, não apresentem um potencial de desenvolvimento da auto-estima e evolução caso sejam submetidos a outro tipo de tratamento que não a internação. Com isso, desejamos oferecer a esses jovens um horizonte real de mudança de perspectiva.

ISTOÉ – Quais seriam essas medidas socioeducativas? O sr. não teme que a sociedade as confunda com impunidade?
Hédio – O adolescente poderia prestar uma série de serviços e teria sua
liberdade vigiada. O problema é que muitas vezes os juízes desconfiam que
a medida socioeducativa vá resultar em impunidade. Mas há um valor que é necessário desconstruir para que qualquer infração deixe de ser punida com a internação. E para isso é necessário o convencimento do Poder Judiciário. Não se muda isso do dia para a noite. Mas é premente que haja consenso sobre a necessidade desse debate.

ISTOÉ – Maioria nas instituições de correção como a Febem, os negros ainda são vítimas da discriminação. A lei que criminaliza o racismo não mudou a visão da sociedade sobre o tema?
Hédio – O debate sobre ações afirmativas tem educado mais do que a criminalização do racismo pela Constituição de 1988. O que mudou é que a sociedade passou a reconhecer o problema. A opinião pública está muito mais treinada para identificar uma discriminação racial e se indignar diante dela. Há 25 anos, havia um consenso de que não havia problema racial no Brasil, e sim social. E hoje se debate se o sistema de cotas é mais apropriado do que a pontuação acrescida ou o investimento no ensino fundamental. O Brasil hoje, enfim, discute o problema racial.

ISTOÉ – Há uma discussão de que as cotas deveriam ser destinadas para pobres, e não especificamente para negros. Qual a sua análise sobre a questão?
Hédio – Nunca indignou a consciência democrática brasileira o fato de você entrar numa sala de aula de uma universidade pública e só ver branco lá. E ao sair no corredor ver só negros na limpeza e na vigilância. Em São Paulo, até o início dos anos 50, havia normas que dificultavam o acesso de crianças negras à escola. Ao mesmo tempo, os fazendeiros ricos sempre mandavam seus filhos estudar na Europa. Por isso, estamos falando de uma corrida com uma brutal desigualdade em termos de ponto de partida. Além disso, há um outro dado significativo. Estatísticas do Enem revelam que nos últimos anos aumentou em quase 30% o ingresso de brancos pobres no ensino superior público no Brasil. E mantiveram-se os mesmos índices pífios de participação de alunos negros. Então, o negro pobre continua excluído do ensino público superior.

ISTOÉ – Além das cotas, que outras ações afirmativas têm sido tomadas para enfrentar a discriminação racial?
Hédio – Estamos atendendo a uma antiga reivindicação do movimento negro. O governo paulista assinou um protocolo com a OAB pelo qual advogados e juristas indicados pela Ordem irão ministrar uma disciplina a respeito da discriminação racial nas escolas de Polícia Civil e Militar do Estado. É um avanço significativo que essas instituições adotem matérias específicas com o pressuposto de que na sua atuação os policiais não podem refletir o que de negativo foi aprendido. Combater estereótipos é sempre um desafio.

ISTOÉ – E como combatê-los?
Hédio – Pela escola. Para mudar o valor etnocêntrico e eurocêntrico que as nossas instituições ainda refletem, você precisa ter negros nas universidades produzindo, propondo debates sobre o tema para que amanhã você possa ter uma alteração substantiva desse quadro. A pedagogia no Brasil sempre refletiu o negro como um objeto da história. Sempre retratou os brancos como os donos da vida e da morte. Da escravidão e da libertação. Sempre foi incapaz de reconhecer as lutas que marcaram a nossa trajetória. Alterar essa visão é fundamental. Além disso, tem que mudar a publicidade, projetar negros em outros lugares e mudar essa história de que só servem para entretenimento. É preciso tempo para mudar esses valores secularmente enraizados. Mas acho que quando a educação, a publicidade, a telenovela estão atentas a isso é aberto um canal fundamental de discussão.

ISTOÉ – Ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos e na África do Sul, o racismo no Brasil sempre foi um adversário invisível e dissimulado, o nosso conhecido “racismo cordial”. Até que ponto a atuação do movimento negro mudou esse conceito?
Hédio – Há 20 anos um grande amigo meu, o Hélio Santos, dizia que “era mais fácil ser militante do movimento negro em Nova York ou Cape Town do que em São Paulo”. O adversário era invisível. Nesse sentido, a experiência de organização e a afirmação da identidade política do movimento negro brasileiro foram uma conquista. Nós éramos isolados na sociedade brasileira. Não havia nenhum apoio, solidariedade e engajamento de qualquer segmento e, ao mesmo tempo, enfrentávamos um adversário que aos olhos das pessoas não existia. Conseguimos fazer emergir o problema na consciência das pessoas. Outro feito importante foi granjear um grande apoio na sociedade. Hoje você ainda tem um segmento que resiste em reconhecer a gravidade do problema. Mas a grande maioria dá razão ao movimento negro. Quando eu entrei na luta, em 1978, as pessoas diziam que a gente era um bando de pretos complexados. E, se houvesse um Spike Lee naquela época, diriam que era um bando de pretos complexados que ficava vendo muito filme do Spike Lee para inventar problemas que não existiam no Brasil.

ISTOÉ – O sr. tem aspirações políticas?
Hédio – Tenho aspiração de ser um bom secretário (risos). Não. Quero fazer uma boa gestão. Há uma grande expectativa à minha volta. Existe a simbologia de o secretário ser negro e, ao mesmo tempo, uma alta expectativa das pessoas em relação ao nosso desempenho aqui. Não quero decepcioná-las. O fato de a ascensão de um negro a esse cargo ter tamanho impacto é revelador de quanto isso é importante para a sociedade brasileira. Até os 15 anos, eu era servente de pedreiro. Meu pai até hoje é operário e mora na periferia de São José dos Campos. Alguém me perguntou: “O que explica a sua chegada à secretaria? Seu currículo?” Não me parece ser. Poder-se-ia explicar o fato de um negro assumir um espaço como esse pela pressão social pelo aumento da representação do negro na sociedade. Mas isso já ocorria há 20 anos. O dado novo é que hoje há lideranças políticas mais atentas a isso. Eu disse ao governador Alckmin que eu me sentia honrado pelo convite, porque com certeza ele tinha inúmeras pessoas com um currículo melhor do que o meu. Essa percepção de que é preciso valorizar e dar visibilidade à comunidade responde pelo fato de eu estar aqui. Eu diria que no Brasil, lamentavelmente, isso ainda é um milagre.

ISTOÉ – Qual foi o pior tipo de discriminação que o sr. sofreu?
Hédio – A mais pesada foi na escola. Sempre fui apaixonado pela língua portuguesa. Quando eu tinha 12 anos, houve um furto na sala do diretor da escola e a professora de português disse, na frente de todos os meus colegas: “Não quero acusar ninguém, mas acho que quem roubou esse negócio foram o Hédio e o Paulinho.” Conheço o Paulinho, que também é negro, desde os sete anos. É o meu amigo mais antigo. Foi muito duro. Por muito pouco, não abandonei a escola por conta disso.

ISTOÉ – E hoje, o sr. sente menos discriminação?
Hédio – Quando viajo de avião, geralmente as comissárias de bordo me oferecem
o jantar em inglês. Isso acontece em vôos domésticos. Demorei um pouco para entender esse negócio. Mas depois percebi que, no Brasil, um negro viajando de avião não pode ser brasileiro. Eles devem pensar: “Esse negão só pode ser americano” (risos).

(*) Entrevista publicada originalmente na edição n° 1876 da revista IstoÉ, de 28/09/2005. Os autores atuam na revista.

sábado, setembro 24, 2005


ENSAIO

ERA MUITA COISA CONTRA O PEQUENO FERNANDO
O que há de exemplar na história
do menino que caiu no bueiro e foi
tragado pelas águas, em São Paulo

Roberto Pompeu de Toledo (*)

O menino Fernando, de 4 anos, vinha brincando e pulando, esperto como sempre, pelo canteiro central de uma movimentada avenida de São Paulo, ao cair da tarde dodomingo 18, quando, num passo em falso, caiu num buraco. Ou melhor, não propriamente num buraco, mas num bueiro. Ou, melhor ainda, nem bem num bueiro, mas numa espécie de poço. A mãe, que vinha com ele, viu o menino desaparecer debaixo do chão. Fernando foi tragado para o reino sombrio das galerias subterrâneas de água da cidade. Na quinta-feira passada, os bombeiros ainda escarafunchavam aquelas funduras. Não havia esperança de resgatar o menino vivo. Talvez nem morto.

O escorregão que precipitou Fernando para dentro do poço foi apenas o último elo de uma cadeia de infortúnios que o levou ao encontro do fim ingrato. Recuperar, elo por elo, a cadeia que o vitimou é juntar as peças que compõem uma história típica do país em que vivemos. O primeiro elo é a condição de menino pobre. Fernando morava, com os pais, no Jardim Damasceno, na região, desesperadamente pobre, da Brasilândia. É uma brincadeira de mau gosto dos loteadores de lugares desse tipo lhes darem o nome de "jardim". Não há jardins neles. Também não há praças. O acidente ocorreu em outra região, longe de casa. Foi na Avenida Inajar de Sousa, bairro da Freguesia do Ó, onde ele participara de uma festinha de criança. A Freguesia do Ó é melhor, muito melhor, do que o Jardim Damasceno. Mas é pior, muito pior, do que a Vila Nova Conceição ou Higienópolis, bairros ricos, onde o equipamento urbano é menos deteriorado.

O segundo elo é ter cabido a Fernando viver numa cidade historicamente especializada em rasgar avenidas onde antes corriam, a céu aberto, rios ou córregos. Instalam-se as avenidas em cima e os córregos ficam aprisionados, embaixo da terra. É o caso da Avenida Inajar de Sousa. Trata-se de situação que, entre outros efeitos indesejáveis, facilita as enchentes, ao sufocar os escoadouros naturais debaixo de um leito de asfalto. A Inajar de Sousa assenta-se sobre um córrego importante, o Cabuçu, afluente do Rio Tietê. Aquilo que de início chamamos de bueiro, e depois corrigimos para poço, na verdade não é uma coisa nem outra. O nome técnico é "posto de visita". É um buraco pelo qual se esgueiram os operários e os engenheiros quando necessitam inspecionar as galerias de água, lá embaixo. Isso quer dizer que o menino Fernando teve o azar de cair num buraco grande, capaz de engolir com folga seu pequeno corpo, e ainda por cima acabou por mergulhar num fluxo de água volumoso, onde dificilmente escaparia ao afogamento.
O próximo elo na cadeia de infortúnios é o menino ter nascido num país de ladrões, alguns de grande porte, como os que freqüentam os escândalos político-empresariais, e outros de miúdas, ou miudíssimas proporções, desesperados filhos da miséria, mas todos ladrões. Ele caiu no buraco porque estava destampado. E estava destampado porque roubaram a tampa. É espantoso o que se rouba de equipamento urbano – fios, placas de sinalização – no Brasil. A Telefônica, concessionária da telefonia em São Paulo, contabilizou 1.700 quilômetros de fios roubados no primeiro semestre do ano, no estado. A CET, órgão que controla o trânsito na cidade de São Paulo, repõe dez placas de sinalização a cada dia, em razão de roubo ou vandalismo, e mesmo assim não consegue repor tudo o que seria necessário. No caso do buraco em que caiu Fernando, ele deveria estar coberto por uma tampa de ferro. Há 57.000 tampas dessas na cidade. Quinhentas são repostas por mês. Num número ignorado mas certamente grande de sumiços, as tampas nem são repostas. O roubo de tampas decorre do feliz casamento da miséria com o crime organizado. A miséria fornece a mão-de-obra de que se aproveitam as redes de receptadores e o comércio de ferro-velho. Uma tampa como a da Avenida Inajar de Sousa custa 150 reais à prefeitura de São Paulo. O ladrãozinho a vende por talvez 10% disso ao interessado final.

O último elo é a debilidade do poder público no Brasil. A polícia devia coibir os roubos, mas... Já se sabe. As prefeituras, ou os governos estaduais, ou o federal, deviam repor de imediato os respectivos equipamentos roubados, mas... Mesmo que não haja corrupção, incompetência ou má vontade, o que freqüentemente é o caso, o Estado, seja em que nível for, nunca dá conta. São questões que o ultrapassam. O buraco em que caiu o menino, segundo os moradores do local, estava sem tampa havia muito tempo. Cobriam-no duas pedras, e mesmo assim só pela metade.

Havia fatores demais conspirando contra a sorte do pequeno Fernando, naquele momento fatídico em que ele pousou o pé no vazio e desapareceu debaixo da avenida, ao voltar da festinha. O secretário municipal Walter Feldman fez uma visita de solidariedade à família. Encontrou a mãe chocada, mas em todo caso capaz de manter um diálogo. O pai não. Permaneceu deitado o tempo todo, com uma toalha cobrindo o rosto.

(*) Roberto Pompeu de Toledo é titular da coluna Ensaio, da revista Veja. Esse artigo foi escrito originalmente para a edição n° 1924, de 28/09/2005.

sexta-feira, setembro 23, 2005

O CASO DAS COTAS
A idéia de inclusão deveria prosperar pela lógica econômica: os contribuintes, em sua maioria pobres, negros ou mestiços, têm direito a ver seus filhos nas escolas e empregos mantidos por seus impostos

Por Ivan Martins (*)

A professora Raquel Vaillardi, sub-reitora de graduação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, está vivendo um desafio de primeira grandeza. Cabe a ela integrar, formar e diplomar os 7 mil estudantes cotistas da Uerj, que ganharam vaga através de um programa de ação afirmativa em favor dos pobres e das minorias. Os cotistas já são pouco menos de um terço dos 25 mil alunos totais da universidade. Desde 2003 eles correspondem a 45% dos calouros da instituição: 20% negros, 20% de escolas públicas e 5% deficientes físicos, todos comprovadamente carentes. É um público novo, sobretudo em cursos de elite como medicina e direito, que apresenta motivações e problemas inéditos no ensino superior brasileiro. Os cotistas são mais assíduos, são mais interessados, trabalham mais que os outros. Por outro lado, têm sido reprovados em maior número nas disciplinas de exatas - sobretudo cálculo - e enfrentam problemas econômicos que a maior parte de seus colegas de classe média nem imagina. Falta dinheiro para condução, falta dinheiro para os livros, falta dinheiro para o computador e para o almoço. O problema acadêmico a professora Raquel já conseguiu contornar: com aulas de reforço, chamadas de iniciação acadêmica, os cotistas conseguem superar as deficiências de formação trazidas da escola pública. Passam a operar com a eficiência dos colegas oriundos da escola privada. O problema econômico é menos tratável. De onde a universidade vai tirar dinheiro bolsas e programas de apoio necessários aos seus estudantes pobres? Para isso a lei estadual que criou as cotas da Uerj havia previsto uma verba, mas ela não se materializa. No ano passado a universidade deveria ter recebido R$ 8,5 milhões, mas recebeu menos de R$ 1,0 milhão. O Estado que abre a porta a inclusão social pode fechá-la por falta de comprometimento econômico.

Um leitor desinteressado da universidade pública poderia perguntar por que, afinal, esse tema lhe diz respeito. Resposta: porque o ensino superior é o campo de teste para uma idéia potencialmente revolucionária na vida econômica brasileira. Se as cotas mostrarem-se viáveis na universidade, tendem a se expandir para outros setores da economia, como ocorreu nos EUA. O Brasil é uma sociedade multiracial com uma elite quase totalmente branca. Logo, há vasto espaço para ações que criem um pouco mais de simetria. Se não fosse por imperativos morais, a idéia da inclusão deveria prosperar pela lógica econômica: os contribuintes, em sua maioria pobres, negros ou mestiços, têm direito a ver seus filhos nas escolas e empregos mantidos por seus impostos. Mas nem por isso a idéia deixa de ser polêmica. O governo acaba de encaminhar ao Congresso um anteprojeto de reforma universitária no qual se prevê que metade das vagas das universidades federais deve ficar com estudantes da escola pública – e que deve ser mantida, na lista de admissão, a mesma proporção étnica da população ao redor. Se for em Salvador, maioria de negros. Se for em Manaus, predomínio de índios. A reação foi tamanha que o Ministério da Educação jogou a entrada em vigor das cotas para 2015, numa tentativa de obter aprovação do Congresso.

Existe no meio acadêmico resistência à idéia das cotas. Reitores de escolas tradicionais temem que ela possa baixar o nível de ensino, colocando nas salas de aulas gente despreparada para aprender – e lançando nas ruas, anos depois, profissionais incapacitados para medicar, projetar ou redigir. Desse ponto de vista a experiência da Uerj é importante: ela sugere que os problemas de assimilação podem ser superados. Mesmo assim, outras instituições estão testando formas alternativas de ação afirmativa. Na Universidade Estadual de Campinas implantou-se no vestibular deste ano um sistema de pontuação: alunos de escolas públicas ganham 30 pontos a mais na segunda fase do vestibular. Se forem negros, mais 10 pontos adicionais. Com essa fórmula, a Unicamp conseguiu aumentar de 28% para 34,1% o percentual de estudantes oriundos de escolas públicas entre os seus calouros de 2005. Na Medicina conseguiu-se o ingresso de 34 alunos da escola pública em uma turma de 110, com 16 negros entre os calouros. A reitoria da Unicamp acredita que esse sistema contempla a inclusão sem colocar em risco a qualidade do ensino. Nos Estados Unidos, onde essa discussão começou em 1972, o assunto segue polêmico, sujeito a idas e vindas dos tribunais. O que não muda por lá é a disposição de integrar no topo do sistema econômico uma parcela da população que não tem oportunidade de ascensão social. Nos EUA, os excluídos econômicos são minoria. Aqui, formam a maior parte da população.

(*) O autor é jornalista e ocupa o cargo de editor-executivo na revista IstoÉ DINHEIRO. Esse artigo foi publicado originalmente na edição 420 da revista, em 24/09/2005.



CONTOS E CONTAS

Homenagem aos 110 anos de Malba Tahan, autor de 'O homem que calculava' e projeto de criação do Dia Nacional da Matemática estimulam debate sobre métodos de ensino mais atraentes para a disciplina

Júlio César de Mello e Souza escreveu, sob o pseudônimo Malba Tahan, mais de 100 obras


Monique Cardoso(*)

Amanhã (sábado 24/09/2005), o Colégio Pedro II homenageia um ex-aluno e professor que se tornou um lendário personagem nacional. A preservação da memória de Malba Tahan, ou Júlio César de Mello e Souza (1895-1974), é tema da mesa-redonda Malba Tahan e a educação matemática, às 9h, no Auditório Mario Lago, da unidade São Cristóvão. Professor de Matemática por seis décadas, Mello e Souza ajudou a reinventar o modo de se ensinar e aprender álgebra, geometria e aritmética por meio de histórias, problemas, jogos e desafios, muitos deles ambientados no mundo árabe, sua grande paixão. Seu método e seus livros, como O homem que calculava, ajudaram a promover a humanização do ensino da disciplina, que sempre foi temida pelos estudantes e está longe de ser a preferida de crianças e adolescentes.
Depois da homenagem – que reunirá especialistas na obra do matemático –, às 11h, será apresentada a peça Malba Tahan, um vendedor de esperança, do grupo de teatro formado por professores e alunos do curso de Matemática da Universidade de Guarulhos (SP).

– Saber matemática serve para que o ser humano viva melhor, porque vai raciocinar melhor. É importante que os alunos do Pedro II saibam quem foi Malba Tahan e tenham um encontro com sua obra – defende a professora Neide Parracho, diretora do Departamento de Matemática do colégio.

Os 110 anos de nascimento de Malba Tahan foram comemorados no último dia 6 de maio, e um projeto de lei para a criação do Dia Nacional da Matemática na data de seu aniversário, de autoria da deputada federal Raquel Teixeira (PSDB/GO), tramita na Comissão de Educação do Senado.

– Malba Tahan é um modelo inspirador. A criação desta data comemorativa, que deve ser aprovada em breve, é adequada não só por valorizar a memória do autor, mas pela importância da matemática numa sociedade pautada pela tecnologia – argumenta a deputada, que voltou ao Congresso esta semana (estava licenciada para ocupar a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Goiás) e é uma das personagens da crise política nacional (Rachel afirma ter recusado proposta financeira do deputado Sandro Mabel, do PL de Goiás, para trocar de legenda, há um ano e meio).

Professores do Estado do Rio e da capital paulista já comemoram o Dia da Matemática em 6 de maio, com atividades de incentivo a um aprendizado mais agradável de matemática.

– Uma data comemorativa nacional seria um estímulo até para a democratização da disciplina. Os professores também precisam se preparar melhor para levar esse conhecimento às massas, porque o bom nível de alfabetização matemática está restrito às classes A, B e C – acredita a professora Lucia Vilella, da diretoria da Regional Rio da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM). Cristiane Coppe, coordenadora do grupo de teatro que se apresenta amanhã e professora da cadeira Prática de Ensino de Matemática da Universidade de Guarulhos, também vê o saber matemático como instrumento de poder e nivelador social:

– A matemática é um filtro que pode provocar exclusão. Vide as provas e resultados de vestibulares e concursos. De concreto, não há nada que justifique as crianças odiarem matemática, assim como é mito dizer que o aluno que é bom em matemática é bom em tudo.

Mas os professores reconhecem que há fases mais críticas da vida estudantil.

– Já constatamos que a passagem da sexta para a sétima série, por exemplo, é mais complicada. Neste período, o crescimento da parte algébrica coincide com mudanças biológicas e comportamentais da adolescência. Medidas para tornar o aprendizado prazeroso ajudam, mas não se pode deixar os conceitos de lado – explica a professora Neide.
Para evitar que alunos torçam o nariz para equações de vários graus nem para vértices e arestas muitos professores adotam como leitura complementar livros de Malba Tahan como A didática da matemática e O homem que calculava.

– Malba Tahan mostrou que é possível ensinar matemática com significado. Todos os atores da nossa peça são professores que estão buscando fórmulas para o melhor diálogo possível com seus alunos. E um dos passos fundamentais é estimular a criatividade deles – acredita Cristiane.

Em sua trajetória como professor, Júlio César de Mello e Souza criticou o excesso de algebrismo. Como escritor, transferiu problemas matemáticos para histórias fantásticas. Publicou mais de 100 livros sob o pseudônimo Malba Tahan, que se confunde com sua própria identidade. Adotou o nome por conta da boa aceitação que as lendas orientais tinham no início do século passado e acreditava que o mistério em torno de um escritor árabe ajudaria a vender livros. Acertou. O homem que calculava, da editora Record, está na 65ª edição.

– Li Malba Tahan quando tinha 12 anos e até hoje me pego folheando meu exemplar. Na minha época, muitos professores indicavam o autor. É inegável que seus contos são um estímulo eficiente e até poético para adquirir conhecimento. Acho que muita gente se tornou engenheiro ou matemático por causa dele – conta o aposentado Oswaldo de Souza, de 73 anos, ex-chefe de Recursos Humanos. O engenheiro paranaense Mahatma Saleh, de 25 anos e de origem libanesa, leu Malba Tahan na adolescência. Diz não ter sido influenciado pelo escritor em sua escolha profissional, mas admira o estilo do autor:

– Ele estimula, sobretudo, a leitura. E pode ensinar a gostar de matemática, porque mostra situações reais e inusitadas em que a matéria se aplica. Também fã dos livros de Malba Tahan, o servidor público do Ministério da Educação Lúcio Mello, 27 anos, leu O homem que calculava ainda criança, na 5ª série, por indicação do padrasto. Mello afirma que a obra o fez perder o medo e despertou seu gosto pela matéria:

– Não posso dizer que aprendi com os problemas do livro. Mas passei a ver a matemática de forma mais agradável. Até hoje acho fascinante histórias como o conto dos camelos e a parte do tabuleiro de xadrez.

Para preservar a memória do escritor, querido por quatro gerações de leitores, foi criado há um ano o Instituto Malba Tahan, em Queluz, em São Paulo, cidade onde Mello e Souza, carioca, passou boa parte da infância. O acervo que a família preservou por décadas foi transferido para lá, mas a sede, precária, chega a ter goteiras.

Neta de Malba Tahan, Renata Pereira acredita que as atividades no Colégio Pedro II vão despertar a atenção para a importância do escritor. No ano passado ela inscreveu o projeto de patrocínio do instituto para concorrer a uma verba da Petrobras para organização e manutenção do acervo. Não foi contemplada, mas continua buscando solução para o problema:

– Vamos buscar apoio junto a empresas privadas para proteger a memória do brasileiro que dedicou a vida a ensinar e a descomplicar a matemática.

(*)Repórter do Jornal do Brasil. Matéria publicada no Caderno B, de 23/09/2005.

FIQUE LIGADO!


AGENDA, DICAS DE FILMES, SHOWS E TUDO MAIS QUE ROLA NA PAULICÉIA ...



NOVEMBRO: Multimídia Negra 2005 – Inclusão Digital e Afrofuturismo

04/11 – Festa de Abertura – Casa das Caldeiras

Em sua segunda edição, o Multimídia Negra 2005 acontece de 10 a 13 de Novembro no Museu da Imagem e do Som com o tema Inclusão Digital e Afrofuturismo. A festa de abertura será na Casa das Caldeiras no dia 4 de Novembro.

O objetivo do Multimídia Negra é aglutinar e discutir o afrofuturismo através de uma linguagem pop, favorecendo uma aproximação com beneficiados da inclusão digital e com isto gerar propostas concretas sobre o que pode ser feito hoje no Brasil – os brancos têm 167% de chances a mais de ter acesso ao computador do que o negro, segundo dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas.

Programação 2005 – Dias 10, 11, 12 e 13 de Novembro

· Apresentação das produções culturais nas áreas de cinema, vídeo digital, música digital, web design, fotografia, design gráfico, além de moda e gastronomia.

· Workshops na área de cinema, vídeo digital, música digital e tecnologia.

· Debates sobre temas como comportamento jovem na era da informação, software livre, common creatives.

Já estão confirmadas as participações de:

· Associação Cultural Kinoforum – Oficina de Roteiros para jovens carentes. Tema: Ficção Científica. Oficina de Making-Off que durará todo o evento e resultará em um DVD de distribuição gratuita no final do evento.
· Cidade Escola Aprendiz – Workshop sob OLD_NET e vídeo animação em massinha.

· CECAES – Centro Cultural Caieiras, Vitória – ES – Apresentação do filme de animação MANGUE E TAL, desenvolvido pela oficina de Cinema e Música. A trilha sonora será apresentada ao vivo pelos jovens músicos da oficina CONGO da escola.

· Lobão, músico - Workshop sobre produção independente e Pocket Show.

· André Abujanra, músico – Workshop e Pocket Show

· Grupo Mombojó, Recife – Workshop sobre disponibilização de música na Internet e Pocket Show

· B. Negão, músico – Workshop
· Eletrocooperativa, Salvador – Workshop com jovens que tocam tambor e música eletrônica -

· Spook, DJ em Nova York – lançamento do livro Rhythm Science e Workshop sobre afrofiturismo

· Rekha, DJ - NY / Índia

· Soul Slinger, Dj - Workshop

· Ruth Slinger, Videomaker.

· Creative Commons – Palestra com Bruno Magrani, FVG – RJ.

O Multimídia Negra já aparece no calendário sócio-cultural paulistano como um evento de peso e conta com o apoio para a realização da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo através da Assessoria de Gênero e Etnias.

quarta-feira, setembro 21, 2005

AS IMAGENS DO 1° SEMESTRE DE 2005










terça-feira, setembro 20, 2005


MEC PREPARA BANCO DE TALENTOS

Simone Harnik (*)

Além de servir para o ingresso em mais de 400 instituições de ensino superior, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) vai poder ser usado na seleção de emprego."Até o fim do mês, vamos apresentar o projeto do banco de talentos. A idéia é criar um ambiente virtual, no qual as empresas possam acessar o desempenho dos candidatos e entrar em contato com eles", diz Dorivan Ferreira, coordenador do Enem.
De acordo com Ferreira, esta seria a concretização do terceiro objetivo da prova. A intenção é que ela funcione como auto-avaliação, sirva para as faculdades usarem em seu processo seletivo e facilite a entrada no mercado.
O banco de talentos vai permitir que empresas cadastradas no MEC (Ministério da Educação) pesquisem o desempenho dos candidatos. Eles vão poder buscar perfis de acordo com as cinco competências e 21 habilidades avaliadas na prova. "Além disso, os candidatos poderão acrescentar suas experiências profissionais", diz Ferreira.
"Vamos pegar essas habilidades e fazer uma correlação com o mundo do trabalho. Se a empresa quiser algum aluno que concluiu o ensino médio e seja bom em português, por exemplo, vai solicitar ao sistema que apresente esse grupo de estudantes."

Ferreira afirma que empresas já procuraram o MEC informalmente. A idéia agora é firmar esse contato. "Nós já temos uma verba para o sistema. O maior problema que encontramos é o acesso. Nem todos os candidatos têm internet disponível. Vai ter de haver um esforço para a inclusão digital." Hoje em dia, as empresas ainda não utilizam o desempenho no Enem como critério para seleção de profissionais, segundo Rossano Lippi, diretor da Central de Estágios Gelre, que há 26 anos trabalha na área de recursos humanos.
Mas a boa nota no Enem já ajudou alguns estudantes a ingressarem no mercado. Edson Roberto Didoné Júnior, 24, é um dos que foram beneficiados. Em 1999, quando terminava o ensino médio, Edson teve alta pontuação na prova. Hoje, depois de graduado, ele leciona geografia no colégio em que estudava. "Qualquer empresa valorizaria. A boa nota abriu portas", conta.
Segundo Marisa da Silva, consultora do Career Center, colocar a pontuação do Enem no currículo é incomum. "Mas o bom desempenho pode ser usado na entrevista, como um desafio que foi enfrentado", diz.

Nas empresas

Dentro das companhias, o Enem começa a ganhar espaço. Na BSM, uma empresa de engenharia do Rio com 700 funcionários, pela primeira vez o exame vai ser utilizado para selecionar os empregados talentosos. As dez melhores notas da empresa vão receber bolsas de estudo em faculdades. "Estamos descobrindo aqui dentro quem é bom, os mais esforçados", conta o gerente-geral, Alexandre Tardin. Dos funcionários, 75 resolveram se inscrever. "Escolhemos o Enem porque ele tem credibilidade e a avaliação é justa. Com ele não tem cola. É uma questão de responsabilidade social. O retorno é a satisfação do funcionário", diz.

(*)Repórter da Folha de São Paulo. Matéria publicada originalmente no Caderno Fovest (página 7), de 20/09/2005.


AS AMEAÇADORAS BANDEIRAS DA NEGRITUDE

JOEL ZITO ARAÚJO (*)

Toda unanimidade cai no jargão do Nelson Rodrigues, mesmo aquela que nasce na intelectualidade zona sul, especialmente a que adora ridicularizar toda e qualquer novidade que sacuda o imaginário racista brasileiro. Neste meio é chique e inteligente se posicionar contra cotas, contra políticas afirmativas, contra o pedido de perdão de Lula na Ilha de Gorée e contra a condenação de expressões e piadas racistas.
Nem mesmo o surpreendente número de brancos aprovados pela Universidade de São Paulo no vestibular de 2005 (77% brancos e 2% de negros) parece mexer em um pensamento cristalizado de uma parte significativa da geração de artistas e intelectuais que teve a sua criatividade alimentada pelas idéias de Gilberto Freire. Como que em defesa da persistência do mito da democracia racial, recusam-se a pensar nossa sociedade na forma que ela de fato é, um mosaico da diversidade, que apesar da mistura mantém e manterá muitos dos seus traços raciais originais. A lembrança de nossa miscigenação aparece somente como um instrumento reacionário (de reação ao novo), alimentando o secular atavismo das elites brasileiras.
Surpreso, comecei a compreender que meus heróis do passado hoje fazem parte da elite brasileira. Celebridades intelectuais, que gostam de posicionar-se como visões autônomas, chegaram ao topo e hoje adoram menosprezar o “crioléu”, que parece não saber mais o seu lugar.
A idéia de uma identidade negra é vista como macaqueação fora de moda do paradigma americano, ignorando-se assim que a negritude no Brasil é um pensamento secular. O que alimentou centenas de jornais negros desde o inicio do século passado? A criação do Partido da Frente Negra Brasileira em 1936, com milhares de adesões nas maiores cidades do país (colocado na ilegalidade por Getúlio Vargas)? E a formação de intelectuais como Abdias Nascimento e Milton Santos?
A constatação de que havia africanos que capturavam africanos para vender como escravos converteu-se em instrumento para apagar qualquer responsabilidade de uma elite surgida exatamente de um modelo que teve em suas bases a exploração, a humilhação e o massacre de cerca de cinco milhões de africanos que aqui chegaram seqüestrados e escravizados.
É como apagar da História o Holocausto nazista citando o comportamento da direita israelense atual. Ou esquecer que a Segunda Guerra Mundial foi mais um ato de auto-exterminação iniciada entre os homens brancos europeus. Constatar que o homem é o lobo do homem não apaga responsabilidades históricas.
E, nas linhas desta intelectualidade acomodada em seu patamar de celebridade esclarecida, a idéia de miscigenação é a faca mais afiada contra qualquer ação política de reparação.
Ao ler seus artigos, temosa impressão de que a miscigenação é uma magnífica criação deste país, tão original quanto a constatação de que Deus é brasileiro. Silenciando ou ignorando assim que a ideologia da mestiçagem está profundamente ligada ao processo de formação das nações latino-americanas, como uma tentativa de imaginar uma identidade nacional híbrida e de esconder e desvalorizar a heterogeneidade cultural, étnica, lingüística e racial comum a todos nós. A rejeição da noção européia de pureza de sangue, dos nossos intelectuais do passado, não trouxe consigo nenhuma preocupação em tirar o sentimento de inferioridade racial dos mestiços. Ao contrário, intensificou a atitude de submissão e o desejo de branqueamento.
As telenovelas produzidas na América Latina são os maiores certificados do quanto é comum e natural a suprema valorização dos brancos e o lugar subalterno dos negros, índios e mestiços. Em nenhuma delas é possível encontrar como padrão ideal e genuinamente “nacional” de beleza os filhos da raça cósmica, ou o mulato inzoneiro.
E quais são as ameaçadoras bandeiras da negritude? Cotas para jovens negros nas universidades, campanha pelo fim da intolerância contra religiões de matriz africana, regularização das terras dos quilombos nas regiões mais pobres do Brasil. Onde está o ódio racial e o separatismo destas reivindicações?
A ridicularização de qualquer ação de governo que cede aos apelos do “crioléu” atesta uma profunda inconsciência ou aversão à emergência dos fenômenos de etnicidade na América Latina que tem, principalmente nos movimentos indigenistas do Equador, da Bolívia, da Guatemala e do México, sua face mais avançada e saudável. E tem na manipulação dos símbolos étnicos incas pelo Sendero Luminoso o mais cruel exemplo de onde esta tensão pode chegar, se continuar sendo ignorada, “denegrida” ou tratada como “coisa de índio” por aqueles que já chegaram ao olimpo. Pegando emprestada a bela frase do nosso Lenine, nenhum deles parece fazer a mínima idéia de quem vem lá.

(*)JOEL ZITO ARAÚJO é cineasta, autor do premiadíssimo “Filhas do Vento” e do vídeo institucional “Vista minha pele”, feito para o Ceert. Também discorre sobre a presença do negro na teledramaturgia brasileira em "A Negação do Brasil, O negro na telenovela brasileira”, em livro editado pelo Senac.

Publicado originalmente na página de opinião de O GLOBO,em 29/05/2005

segunda-feira, setembro 19, 2005


A IMPLOSÃO DA REPÚBLICA
O governo Lula atualiza a forma de poder tradicional do Brasil, própria do capitalismo no país, em que o dinheiro e as relações pessoais se entrelaçam para saquear a nação, "empobrecer e despolitizar o povo"

MARIA SYLVIA CARVALHO FRANCO (*)

Powerful" Brasil: epíteto de nosso país, entre outras nações submetidas às estratégias mundiais de hegemonia político-econômica, expostas em recente livro sobre a "corporatocracia" norte-americana (John Perkins, "Confessions of an Economic Hit Man", Barrett-Koehler, 2004).A novidade, nesse relato, é que seu autor descreve, no sistema de mando que liga sigilosamente centros internacionais de decisão e quadros domésticos coadjuvantes, a destreza em desferir golpes -projetos técnicos superdimensionados, provisão de recursos excessivos, corrupção, lavagem de dinheiro, suborno, proxenetismo, colapso de governos, repressão organizada, assassinato- em benefício de mandatários privados conexos a poderes públicos.

Favores e dinheiros entretecem essa rede.
As técnicas de controle político-econômico reeditam, com empréstimos insaldáveis, a astúcia de prover fiado para escravizar a passos perdidos. "Desenvolvendo" iniciativas custosas -parques industriais, usinas de energia, sistemas viários, redes de telecomunicações, portos e aeroportos, complexos mercantis, agronegócios, empreiteiras, empresas petrolíferas, complexos exportadores, bancos-, os Golias transnacionais e seus acólitos nativos maximizam os ganhos e reduzem à indigência o povo restante.
A preeminência do sistema financeiro, nessa linha, propeliu ao infinito a concentração de riqueza. O dinheiro aplicado nunca sai, de vez, do país de origem, voltando acrescido. Este conto, "se non è vero, è ben trovato": oferece uma visão conjunta dos fenômenos e dá sentido a evidências aqui reiteradas.
A cultura da fraude, mundo afora, confirma essa crônica de misérias. Na Alemanha, vista pela Transparência Internacional como uma das nações menos corruptas, escândalos financeiros abalam negócios estatais e privados. Proxenetismo, propinas e subornos mesclam-se a delitos como a lavagem de dinheiro por bancos de comércio e empresas de telecomunicações ou, na indústria, como o suborno de líderes sindicais, obsequiados com férias e prostitutas em troca de apoio trabalhista para corte de custos.
Neste caso, a investigação atingiu alto executivo da indústria e assessor do governo em um plano de reforma econômica que afrontou a classe operária alemã. Esse funcionário demitiu-se, negando seus malefícios (Jeffrey Fleishman, "Corporate Corruption Rattles Germany", "Los Angeles Times", 24/8/ 2005).

Ciranda infernal
O termo "Poderoso Brasil", acima, aparece na estratégia para manter a supremacia americana no continente, sem referência aos programas porventura a nós destinados. Uma só alusão é feita ao Rio de Janeiro e aos contatos com os "agitadores" locais. Embora dissimuladas, essas práticas deixaram indícios de nossa participação em sua infernal ciranda. Seus marcos aqui subsistem.
Desde o governo Dutra, passando por JK e pelo "milagre econômico", crescentes dificuldades e continuadas situações recessivas levaram ao labirinto de créditos, dívidas, usura, derrama, confisco, retumbando a exigência de forte ajuste fiscal e aperto monetário visando "estabilizar" a economia, com o Fundo Monetário Internacional no horizonte.
Com Fernando Henrique Cardoso, as privatizações legitimaram o pleno direito de passagem pelos encraves de bens públicos, notadamente com a cessão de negócios estatais lucrativos e com o socorro a bancos, eximindo-se das atribuições básicas do governo. Este guardou os seus segredos e manteve as aparências de fé pública. Dólares e euros, desde então, acotovelam-se nessa cornucópia.
O confisco do patrimônio público cresceu, férreo, com Lula. O clichê justificativo das decisões financeiras repete o gárrulo refrão: "Estabilidade da economia". Equilíbrio "em favor de quem e para fazer o quê" é a pergunta que se opõe às certezas abstratas, cuja resposta, nesse caso, aponta para o saque da riqueza produzida no país. Os juros excessivos e tributações exorbitantes infletem para o inexorável "superávit primário" destinado a "honrar" as dívidas que, pagas às expensas do cidadão e à custa de suas carências, foram contraídas sem controle civil de sua gênese ou fins.

Palocci
Esse teor abstrato sela a entrevista coletiva de Antonio Palocci, alardeando os "fundamentos sólidos da economia". Sua autojustificativa consagra o "mercado tranqüilo", as grandes exportações, os agronegócios prósperos, as estatísticas oficiais dóceis e escamoteia a indústria lesada, o comércio parado, o desemprego renitente, a pobreza contumaz, as lacunas em educação e saúde, e por aí afora. O elogio da "economia", abstraída de outros campos, funda o discurso que "blinda" Palocci e Lula, sem que se aponte as forças que a mantém e o limite de seus resultados ou se atente para as decorrentes exclusões e queda nos níveis vitais. Reside exatamente aí, na apropriação lesiva de recursos alheios confiados a eles em virtude do cargo, no monopólio do poder para a pilhagem do povo, a mais formidável corrupção, aberta e legalizada, que implode a soberania da República. As demais violações, superlativas ou mesquinhas, são resultados.
O circo de improbidades que assistimos é, pois, historicamente definido nas condições presentes, as quais encontraram, porém, solo fértil em nossa ética política, afeita à mistura entre público e privado e pródiga nas correlatas vantagens. O amálgama entre dinheiro e favor, forma de dominação peculiar à gênese do capitalismo no Brasil, vigora sempre.
O atual governo e seu partido reeditaram as formas de poder que entrelaçam moeda e relações pessoais. No PT, a cobiça de recursos partidários e a modéstia dos bens particulares, face aos custos eleitorais e às promessas do poder, abriram as portas ao subterfúgio: cavar negócios, dar e receber, pedir e tomar. A cupidez subjetiva completa o quadro. Condutas desse jaez promovem explorações nas franjas da ilegalidade (lixo ou bingo), com sua dupla face, voltada para o partido e para seus dirigentes.
Mas Janus complicou-se: em algum ponto, projetos políticos e ambições individuais pactuaram com estratégias econômico-financeiras de porte mundial. As dívidas contraídas nesses acordos são remuneradas à custa do "poderoso Brasil": riquezas imensas e trabalho colossal nutrem o fantástico "superávit primário" que seduz os patrocinadores do poder, vicariamente exercido por seus empregados, nossos governantes. A "economia" não é absoluta, jamais pode ser ou não ser "contaminada" pela política: ela "é" uma política, cujos benefícios não abarcam o indefinido Brasil da oratória oficial, mas limitam-se a grupos precisos.

Sem razão
A burocracia petista, nas atribuições oficiais, esvaziou-se até mesmo da racionalidade constitutiva desse aparato: inexiste hierarquia eficaz, especialização de funções e cargos, competência profissional, eficiência, fins institucionalizados. Os quadros do governo, com poucas exceções, são impermeáveis ao objeto que administram. A burocracia assim vivida é inapta para o Estado, indiferente ao saber, estéril.
Lula, ícone desse contra-senso, louva a ignorância e encarece o analfabetismo num universo dominado pelo conhecimento. Palocci compõe um exemplo mais circunspecto. Ao rebater a denúncia de propina, declarou jamais ter contemplado outro "negócio" que o serviço público.
De fato, seu período médico é parco (5 anos) face à carreira de político profissional: vereador (aos 21 anos), deputado estadual e federal, presidente do PT paulista, coordenador de campanha, ministro. Sua formação técnica escapa ao cargo que hoje ocupa.
Daí o infortúnio desse grupo: os Delúbio, Berzoini, Gushiken, Dirceu, Genoino, Lula, pouco ou nunca se empenharam em criações materiais ou do espírito, presos à máquina do partido ou sindicato e a um poder inane, atento em seduzir a todos, dos miseráveis aos poderosos da terra, a aprestá-los em nichos apaziguadores. Nem se pode julgar, como alguns petistas, que indivíduos faltaram à fé jurada. Traídos foram os eleitores: em vez de estadistas com projeto político, receberam burocratas autoritários e subservientes, com típica vocação de "aparatchik".
Esses atores encenam a decadência da democracia, invertendo, em suas condutas, valores básicos. Assim, a reforma da Previdência -rápida em confiscar funcionários menores ou mal representados, célere em ceder a corporações fortes como a magistratura ou o Ministério Público- é dita corajosa, por romper "privilégios", quando de fato, pusilânime, expropriou indefesos.

A covardia torna-se bravura. Outra pirueta nessa área, onde os saldos positivos do sistema alimentam o inexorável "superávit primário": o excedente converte-se em "rombo".

Idênticas inversões permeiam as negativas de corrupção. Todos repelem as acusações, para logo serem desmentidos por testemunhos ou fatos. Todos exaltam suas façanhas: lutas épicas contra a ditadura, por José Dirceu, proezas macroeconômicas, por Palocci. As glórias passadas ou os brilhos presentes justificariam os males escondidos. O vício transforma-se em virtude, o réu converte-se em herói.
O ardil da negação absoluta ("nunca", "jamais") repete-se na entrevista de Palocci, que contesta ter firmado contratos -citou dois- favorecendo uma empresa de lixo. Seriam anteriores à sua administração. Ao asseverar essa impossibilidade, elidiu um terceiro ato, relativo à mesma empresa, assinado em seu governo. Argüido por tal silêncio, alegou (via assessores) que se calara porque o contrato não fora "objeto de questionamento". Neste caso, a falsidade não está no explicitado, mas no omitido: a mentira converte-se em verdade.
Relações venais de poder organizam esse campo de forças, mediante procedimentos legalizados, "transparentes", dentro da normalidade. Nessa pantomima de honradez entranha-se a conduta perversa: saquear o país, empobrecer e despolitizar o povo, destruir esperanças, distorcer direitos constitucionais, como promete a "flexibilização" trabalhista. Mais inversões: prega-se a caridade (Fome Zero e outras mercês) e pratica-se a inclemência, cortejam-se grandes interesses. A conivência com estes municia, no mínimo, o caixa dois. No desenlace desses processos, como em tempos coloniais, esvai-se a riqueza, drenada para canais exóticos.

(*)Maria Sylvia Carvalho Franco, professora titular aposentada dos departamento de filosofia da Unicamp e da USP, é autora de, entre outras obras, "Homens Livres na Ordem Escravocrata" (Editora Unesp).

NOTA: Artigo publicado originalmente para o Caderno Mais!, da Folha de São Paulo, em 18/09/2005.

sábado, setembro 17, 2005


SOBRE ROBERT JOHNSON, PELÉ, VOCÊ E A SOLIDÃO RACIAL

Por Rosenildo Gomes Ferreira (*)

No ano passado (2003), a revista americana Business Week publicou uma ampla reportagem intitulada “Race in the Boardroom” que, numa tradução livre, significa “Diversidade Racial nos Conselhos de Administração”. A matéria – um trabalho de grande fôlego e que só foi concluída com êxito porque boa parte das declarações foram dadas em off (quando as fontes não são reveladas) – esquadrinhou a forma como as empresas européias lidavam com a diversidade racial e cultural. E mais. Também procurou listar quantos integrantes de minorias étnicas, em cada país, ocupavam postos de alto nível. Por último, tentou-se medir o impacto dessas políticas no desempenho das grandes corporações do Velho Mundo. A resposta de um executivo alemão, confrontado com a fatídica pergunta sobre o grau de diversidade da empresa que ele dirigia (“Uma vez tivemos um belga!”); mostra que a Europa ainda tem muito que avançar nesse terreno. Uso a reportagem, caro leitor, apenas como um abre-alas para o que, de fato, pretendo tratar nesse ensaio: a Solidão Racial. Esse “mal”, uma espécie de primo distante do banzo, atinge de forma indistinta pesos-pesados do mundo corporativo como Robert Johnson (fundador da Black Entertainment Television e o primeiro afrodescendente a entrar na lista de bilionários da revista Fortune, com um patrimônio de US$ 1,5 bilhão) e personalidades do calibre de Edson Arantes do Nascimento, que vive sob a pele do heterônimo Pelé.

A Solidão Racial, contudo, é mais lancinante sobre os afrodescendentes comuns. Pessoas, exatamente, como eu e você cujo principal mérito na vida foi conseguir furar as “barreiras naturais” à ascensão profissional e pessoal. A cada degrau que subimos vemos que o mundo a nossa volta vai se tornando cada vez mais monocromático. Até que, um dia, nos damos conta de que no escritório, no barzinho, no restaurante e também na piscina do condomínio, somos, via de regra, o único negro do recinto. A unicidade nos transforma em uma espécie de zumbi. Um ser sem alma. Um ser sem cor. Invisível, mesmo! É nesse ponto que é preciso vigilância redobrada para não acabarmos nos afastando do debate racial. Às vezes, a “ficha só cai” quando nos deparamos com situações de confronto explícito. Algo semelhante ao que aconteceu com Bob Johnson que, do alto de seu patrimônio bilionário, foi instado a manobrar o carro de uma hóspede, enquanto esperava por um amigo à porta de um hotel de luxo em Washington D.C. (Estados Unidos).

A Solidão Racial, no entanto, não é causa em si mesma. É, sim, efeito de um sistema perverso que nega a uma expressiva parcela da sociedade brasileira os mais elementares direitos, tendo por base o critério étnico. O antídoto, sabemos, já existe e se chama sistema de cotas. Cotas no serviço público. Cotas nas universidades. Cotas no legislativo. Talvez, dessa forma, possamos, daqui a 10 ou 15 anos, olhar para o lado, nos lugares onde o número de zeros no contra-cheque dita quem entra ou não, e ver que o matiz de cores está mais próximo do que vemos nas pesquisas do IBGE. Sem isso, continuaremos vendo zumbis famosos como Pelé e Bob Johnson e zumbis anônimos como eu e você, sofrendo da tal Solidão Racial!

(*) Artigo escrito originalmente para a edição numero 0 da revista Afirmativa Plural, editada pela Afrobras/Faculdade Zumbi dos Palmares. O autor é repórter da editoria de Negócios e titular da coluna "Empresas do Bem" da revista IstoÉ DINHEIRO.

AGRADECIMENTOS


Pessoas e instituições que ajudaram e ajudam a fortalecer o trabalho cultural desenvolvido pelo Grupo Griot:

- Funcionários da Editora Três, que gentilmente cederam livros e o computador para o projeto,
- Departamento de circulação da Editora Três, que fornece semanalmente exemplares das revistas DINHEIRO e IstoÉ,
- Integrantes do Rotary Club (núcleo Chácara Flora), que compraram parte dos livros didáticos usados pelos professores,
- Funcionários da KPMG, que fizeram uma gigantesca mobilização para arrecadação de livros didáticos, técnicos e de literatura geral,
- Jornalistas e demais funcionários das Assessorias de Imprensa que aceitaram participar da campanha de doação. São elas: CDI, RP1, CDN, Edelman, Hill & Knowlton, Funcionários da Monsanto e da Traffic Marketing Esportivo,
- Sebo do Tom, onde trocamos alguns livros técnicos recebidos, por títulos mais "palatáveis",
- Instituto Criança Cidadã (ICC), núcleo São Remo, que gentilmente cede as salas para as atividades do Grupo Griot: aulas, reuniões e a "BIBLIOTECA",
- Faculdade FAAP e o Laboratório de Engenharia de Materiais da POLI-USP (Wilson da Silva Maia - técnico), pela doação das carteiras escolares,
- Livraria Piazza, pelo livros (novinhos em folha!),

* Aviso importante: Por se tratar de um registro feito nas horas de folga, existe sempre a possibilidade de uma ou outra mensagem conter incorreções. Pedimos a compreensão de todos e nos colocamos à diposição para dirimir dúvidas e efetuar os ajustes necessários. Lembramos ainda que os conceitos e teses expressos nesse blog não refletem, necessariamente, a opinão do Grupo Griot. Eles são de responsabilidade integral do autor(es).


BIBLIOTECA

O cursinho conta com uma infra-estrutura básica, onde se destaca a "BIBLIOTECA". Fruto da doação feita por diversos colaboradores, cuja maioria atua em empresas de comunicação (ver lista ao final), a unidade conta com um acervo de cerca de 400 livros de literatura universal ("Cem anos de solidão" e "O Triste fim de Policarpo Quaresma", entre outros), obras de interesse geral ("Arquipélago Gulag") e títulos do segmento de auto-ajuda e de administração de carreira ("Quem mexeu no meu queijo" e "Semente da Vitória"). Contamos ainda com cerca de 20 dicionários (português, inglês, francês e espanhol) e perto de 100 apostilas.
Por ora, todo esse material está acondicionado em duas estantes numa das salas de atividade do Instituto Criança Cidadã (ICC), ONG que gentilmente cede o espaço para a realização das aulas. Nossa ambição é fazer desse acervo uma espécie de ponta-lança da "BIBLIOTECA COMUNITÁRIA" para alunos e demais moradores da comunidade São Remo.
A "BIBLIOTECA" tem uma importância fundamental no projeto que deu origem ao Cursinho Griot. É que além de reforçar o caráter cultural e comunitário dessa empreitada, ela funciona como um instrumento catalisador da cultura na região. Afinal, como no caso da maioria das comunidades de baixa renda nesse país, na São Remo também existem mais botecos do que espaços de interlocução cultural à disposição das pessoas.

Lista de apoiadores: KPMG, CDI, RP1, CDN, Edelman, Hill&Knowlton, Monsanto, Editora Três, Traffic, Rotary Club (Chácara Flora), Livraria Piazza e ICC.

sábado, setembro 10, 2005


HISTÓRIA