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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

quarta-feira, agosto 29, 2007

PROJETO MOTIVA ALUNOS DA REDE PÚBLICA

Daniela Arrais(*)

A estudante Mainã Nascimento, 17, nem cogitava se inscrever no vestibular da USP. "Achava que era coisa para gente rica, que tinha estudado em colégio superbom."
Quando recebeu a visita dos Embaixadores da USP em sua escola, a estadual Andronico de Mello (zona oeste de SP), mudou de opinião. "Vi que é possível passar no vestibular. Afinal, alunos daqui passaram", diz a vestibulanda, que vai tentar uma vaga em arquitetura. O projeto Embaixadores da USP, lançado em junho, consiste em convidar estudantes que cursaram o ensino médio em instituições públicas a irem às suas escolas e divulgarem a universidade.

"Queremos ampliar a divulgação, na escola pública, da USP", afirma a pró-reitora de graduação Selma Garrido. "Existe um distanciamento muito grande do sistema público de ensino das universidades públicas. Isso é construído no imaginário da população." Segundo a pró-reitora, a idéia do projeto surgiu a partir do programa Inclusp, que garante um bônus de 3% na nota do vestibular a estudantes que cursaram todo o ensino médio em instituições públicas.

"Sabemos que existem boas mentes que podem ser fertilizadas aqui na universidade, que têm competência intelectual, preparo, que podem sair daqui bem formados", acrescenta. Para o pró-reitor de cultura e extensão universitária, Sedi Hirano, existe uma resistência, por parte dos alunos, em se inscrever no vestibular. "Muitos estudantes têm o mito de que a USP é para filhos de pessoas ricas ou de classe média, e não para filhos da escola pública."

Esse era o pensamento de Natasha Roquini, 18, aluna do terceiro ano da Andronico de Mello. "Todo mundo quer entrar na USP. Antes, eu pensava "até parece que eu vou conseguir'", diz. Agora, ela se desdobra para conciliar as oito horas diárias de trabalho e as aulas na escola, rotina que a faz ficar das 6h30 às 23h30 na rua. Daniela Granados, 17, vestibulanda em dúvida entre turismo e hotelaria, também ficou motivada após a visita. "Eles falaram que, se a gente tiver força de vontade, consegue entrar."

O esforço é a aposta de Raphel Dantas, 18, que estudou com alguns dos embaixadores. "A USP nunca foi um sonho distante. A visão da maioria dos alunos é que escola pública é ruim, mas passar no vestibular depende de você mesmo." Giulliany Leal Russo, 25, caloura de pedagogia e embaixadora da USP, acha que os alunos precisam ter confiança. "É bom ter um plano de estudo, pedir ajuda a professores, se inscrever em um cursinho popular. E, principalmente, confiar no seu potencial. Se achar que não vai passar, é melhor nem fazer a prova."

Na escola pública, aluno concilia trabalho
Colaboração para
Alunos de escola pública costumam dividir a rotina entre o trabalho e a escola. É assim com José Roberlando, 18, que trabalha oito horas por dia como assistente financeiro, assiste aulas à noite e ainda passa o sábado, das 7h às 18h, no cursinho pré-vestibular."Quero entrar na universidade, então o esforço vale a pena", afirma o estudante, que está em dúvida entre os cursos de economia e ciências contábeis. Após a visita dos Embaixadores da USP, Roberlando deixou os questionamentos de lado e se inscreveu para o processo seletivo da USP. "O mercado de trabalho vê a USP como um centro de ponta, o que dá mais oportunidade para a nossa realização profissional", analisa.

Em busca dessa realização, Jorzino da Cruz Neto, 24, prestou vestibular na USP, no ano passado --escolheu o curso de licenciatura em geociências e educação ambiental. "Eu tinha me formado na escola em 1999, estava há muito tempo sem estudar. Mas resolvi prestar o vestibular atraído pela isenção da taxa. Queria conhecer a prova", lembra.

O calouro se surpreendeu com a aprovação. "Estudei apenas para a segunda fase. Mesmo assim, consegui provar que é possível passar na USP vindo de uma escola pública", diz o hoje embaixador da USP. Para ele, o processo do vestibular é diferente para quem estuda na rede pública e na particular. "O aluno da pública acha que o ensino é de péssima qualidade. Mas se ele começar a pensar que o professor tem o que ensinar, se ele começar a pensar que pode ser aprovado, já aumenta a chance de conseguir entrar na universidade."

Para a professora de biologia da Andronico de Mello Maria Regina Trevizani, os alunos precisam de estímulo. "A clientela é heterogênea, mas o nível geral é muito bom. Tem muita gente com condições de entrar na universidade. Para isso, o aluno precisa confiar no seu potencial", afirma.

(*) Mátéria publicada em 28/08/07 no caderno Fovest, da Folha de São Paulo

segunda-feira, agosto 27, 2007

COMO PENSAM OS BRASILEIROS


Um livro prova que, ao contrário do que propalam os esquerdistas, a elite nacional é o farol da modernidade

Ronaldo França (*)

A julgar pelo que se lê nos jornais e se ouve nas salas de aula das universidades, o Brasil conta com uma elite retrógrada, de valores quase medievais, empenhada em obter toda sorte de privilégios do estado e em explorar a massa trabalhadora. Essa elite seria tão daninha que qualquer movimento de protesto originado nela, como o "Cansei", já nasceria marcado pela ilegitimidade. Segundo os arautos desse ponto de vista, em posição antípoda estaria um povo de valores imaculados, dono de uma sabedoria e um senso de justiça naturais e pronto a redimir o país de séculos de iniqüidade. Basta um pouco de distanciamento para ver que se trata de um maniqueísmo tolo, típico da rasa cachola esquerdista brasileira.

Elite é muito mais do que sinônimo de "rico". Como registram os dicionários, é uma palavra de origem francesa que significa "o que há de melhor numa sociedade ou grupo". Dela fazem parte profissionais liberais, cientistas, atletas, empresários, políticos (não todos, infelizmente). Só uma nação que conta com uma elite com iniciativa, energia criadora, conhecimento avançado e valores democráticos tem chance de desenvolver-se. É por meio de suas ações e de seu exemplo que o conjunto da população termina ascendendo também, tanto no plano educacional e cultural como no profissional. Isso está longe de ser teoria romântica. É fato verificável no bloco dos países que hoje compõem o clube dos desenvolvidos.



Ao deixar de lado os estereótipos falidos, é possível verificar que a realidade brasileira estampa feições que costumam passar despercebidas. Uma prova disso emerge da leitura de A Cabeça do Brasileiro (Record; 280 páginas; 42 reais), do sociólogo Alberto Carlos Almeida, que chega às livrarias nesta semana. O livro traz os resultados da Pesquisa Social Brasileira, um levantamento no qual se investigaram os principais valores presentes no cotidiano social, econômico e político nacional. Enfim, o que se pode denominar de "o pensamento do brasileiro". O que se tem ali é uma radiografia de nitidez impressionante, que afirma principalmente como o papel da elite na construção de um Brasil moderno é crucial. A parcela mais educada da população é menos preconceituosa, menos estatizante e tem valores sociais mais sólidos. Se todas as pessoas em idade escolar estivessem em sala de aula hoje, a pleno vapor, o Brasil acordaria uma nação moderna no dia 1º de janeiro de 2025 – depois de um ciclo completo de educação. Os brasileiros passariam a ter baixíssima tolerância à corrupção e esperariam menos benesses de um estado protetor. Funcionários públicos ineficientes e aproveitadores seriam uma raça em extinção. Os cidadãos lutariam mais por seu futuro, em vez de se entregar distraidamente à loteria do destino. Nesse país, as pessoas de qualquer credo ou classe social se veriam como portadoras de direitos iguais. As diferenças sexuais seriam mais respeitadas. Provavelmente pouquíssimos endossariam a frase estampada no alto da página 87 – "Se alguém é eleito para um cargo público, deve usá-lo em benefício próprio".

A Pesquisa Social Brasileira foi realizada pelo instituto DataUff (Universidade Federal Fluminense) e financiada pela Fundação Ford. Foram ouvidas 2.363 pessoas, em 102 municípios. Coordenador do trabalho, Almeida optou pela mesma metodologia utilizada pela General Social Survey, a maior pesquisa social dos Estados Unidos, realizada a cada dois anos, desde 1972, pela Universidade de Chicago. O levantamento expressa a opinião dos brasileiros sobre diversos temas. Não pretende, é importante ressaltar, revelar como agem. A pesquisa é sobretudo a respeito da ética nacional ou das várias éticas que convivem no interior do país. Pegue-se o exemplo do "jeitinho". A maioria esmagadora da população já lançou mão dele para resolver problemas. De acordo com Almeida, essa parcela equivale a dois terços da população. Mas ele não é aprovado na mesma proporção quando se leva em conta o grau de escolaridade. O "jeitinho" é chancelado como algo válido por quase 60% dos analfabetos. Entre os que têm nível superior, porém, esse índice cai praticamente à metade. Essas discrepâncias também se revelam grandes quanto a outros temas. No universo dos que têm pouca ou nenhuma educação, a taxa dos que aprovam a violência policial oscila entre 40% e 50%. Já a dos que a desaprovam entre os mais escolarizados chega a 86%.

A pesquisa se ocupou, ainda, de um aspecto bastante danoso da vida nacional, o patrimonialismo. Ele não é uma invenção brasileira, como os impostos provisórios eternos. Quem melhor o investigou foi o sociólogo alemão Max Weber, que inspirou gerações de estudiosos. No Brasil, surgiu como forma de organização social no século XVI, com as grandes concessões de terra, as capitanias hereditárias. E por aqui fincou raízes fortes. Uma das conseqüências do patrimonialismo é a confusão entre o público e o privado. A pesquisa de Almeida mediu-a por meio da frase "Cada um deve cuidar somente do que é seu, e o governo cuida do que é público". Ela obteve a concordância de 74% dos que foram ouvidos. Quando se analisa esse mesmo dado à luz da escolaridade, contudo, vê-se a falta que a sala de aula faz. No universo dos analfabetos, 80% não conseguem enxergar o papel do cidadão no cuidado com a coisa pública. Entre os que têm nível superior, o porcentual diminui para 53%.

"Hoje, a maioria dos brasileiros ainda tem baixa escolarização e, portanto, uma visão mais arcaica da sociedade", afirma Almeida. "Mas é evidente que a educação tornará majoritária no país a parcela da população que tem uma visão mais moderna. O processo é irreversível." A divisão entre arcaico e moderno, embora em desuso por boa parte dos cientistas sociais, é a que define com mais clareza o abismo entre as duas visões de mundo. Para verificar a profundidade dessas diferenças, o autor de A Cabeça do Brasileiro não recorreu a nenhum expediente extraordinário. Apenas aferiu, por meio de perguntas, a indulgência com situações cotidianas. Sua pesquisa tem o poder de iluminar os principais aspectos da vida nacional. Os dados obtidos reforçam o que o imperador dom Pedro II já sabia: sem um esforço para universalizar a educação, a sociedade brasileira continuará patinando material e moralmente. Como nota Almeida, num país mais escolarizado a cena de um Severino Cavalcanti sentado na cadeira de presidente da Câmara dos Deputados nunca teria ocorrido. "Os eleitores de Severino, em sua maioria de baixa escolaridade e residentes em cidades pequenas do interior do Nordeste, tendem a não condenar o comportamento desse político, que defendia abertamente a contratação de parentes", constata o autor.

A corrupção, essa praga tão destruidora quanto a saúva o era nos tempos do ciclo do café, tem o beneplácito da maioria dos iletrados. Isso ficou claro quando se colocou a seguinte pergunta: "Como considerar a atitude do funcionário público que ajuda uma empresa a ganhar um contrato no governo e depois recebe dela um presente de Natal?". Para 80% dos que não sabem ler ou escrever, isso é apenas um "favor" ou "jeitinho". Para 72% dos que concluíram a universidade, é corrupção e ponto final. Voltando à frase do segundo parágrafo desta reportagem, entre os analfabetos 40% acham que uma pessoa eleita para um cargo público deve usá-lo em benefício próprio. Dos que atravessaram todo o ensino superior, somente 3% pensam assim. O mesmo contraste é percebido quando o tema é a intervenção do estado na economia. Incríveis 90% dos analfabetos acham que o governo deve socorrer empresas em dificuldades. Entre os que têm nível superior, apenas 27% concordam inteiramente com isso e 37% aceitam a atitude em alguns casos. Ainda mais preocupante é a proporção de iletrados que apóiam a censura governamental. Para quase 60% deles, "programas de TV que fazem críticas ao governo devem ser proibidos", contra somente 8% dos que exibem nível superior. Dá para ver de onde os partidários da tentação autoritária tiram seu entusiasmo liberticida.

Um capítulo delicado do livro é o que trata da percepção dos brasileiros em relação à cor da pele. O autor pediu aos entrevistados que atribuíssem qualidades ou defeitos a homens brancos, negros e pardos retratados em fotografias. Aos brancos foram atribuídas mais qualidades positivas, como inteligência, honestidade e modos educados. Os negros ficaram em segundo lugar. Quanto aos pardos, além de ficar atrás no que se refere aos aspectos positivos, eles são mais relacionados a características negativas (veja quadro).

Com base nesses dados e em cruzamentos mais específicos, como o que relaciona a cor da pele a profissões de maior ou menor prestígio, com vantagem para os brancos, Almeida refuta a tese de que um dos maiores problemas brasileiros é o preconceito social, e não o racial. Mas talvez seja o contrário: pardos e negros são percebidos de modo mais negativo justamente por continuar a figurar em maior número, por causa de circunstâncias históricas, na base da pirâmide social, onde as oportunidades são menores e a marginalidade é maior. Seja como for, a pesquisa funciona como combustível para uma discussão que precisa continuar.

"A pesquisa que compõe A Cabeça do Brasileiro é algo monumental. Tem o mérito de testar quantitativamente tudo o que nós estudamos. Nunca foi feito algo parecido", diz o antropólogo Roberto DaMatta. É também por meio de trabalhos como esse, com conclusões que fogem aos lugares-comuns e apontam na direção da necessidade de universalizar a educação e acelerar a marcha rumo à modernidade – o que significa uma ampliação da classe média, ou seja, da elite –, que talvez um dia o país possa deixar de caber na seguinte descrição do escritor Paulo Mendes Campos: "Imaginemos um ser humano monstruoso que tivesse a metade da cabeça tomada por um tumor, mas o cérebro funcionando bem; um pulmão sadio, o outro comido pela tísica; um braço ressequido, o outro vigoroso; uma orelha lesada, a outra perfeita; o estômago em ótimas condições, o intestino carcomido de vermes. Esse monstro é o Brasil: falta-lhe alarmantemente o mínimo de uniformidade social".

(*) Repórter da revista VEJA. Matéria publicada em 18/08/2007

sexta-feira, agosto 17, 2007

JUÍZA DESPACHA NA CALÇADA, EM MADUREIRA (RJ)



Sem poder trabalhar até mais tarde, uma juíza da Vara da Infância e Juventude de Madureira, no Rio, encontrou um jeito de chamar atenção: pôs mesa, cadeira e computador na calçada e despachou no meio da rua. O Jornal da Globo mostrou o protesto na sexta-feira. O gesto foi considerado uma insubordinação pelo Tribunal de Justiça do Rio, que deu à juíza Monica Labuto 15 dias para justificar-se por escrito. Ela pode ser punida até com a perda do cargo. A juíza Mônica Labuto queria que o fórum de Madureira, no subúrbio do Rio, ficasse aberto até depois das 21h, para que ela pudesse acompanhar o trabalho de comissários da Vara da Infância e da Adolescência. O presidente do Tribunal de Justiça negou o pedido, alegando razões de segurança para as instalações do prédio. Na última sexta-feira, a juíza transformou a calçada em gabinete, e despachou no meio da rua mesmo.

A decisão da doutora Labuto irritou a direção do Tribunal de Justiça. O presidente do TJ entrou com uma representação contra a juíza no órgão especial, composto por 25 desembargadores. “Ela desobedeceu ordem de superior hierárquico no campo administrativo”, acusou o desembargador José Carlos Murta Ribeiro, presidente do TJ. “O que ela fez foi expor o Poder a vexame, porque não é possível que uma juíza de Direito vá para a rua numa mesa, emprestada ou de quem quer que seja, fazer um proselitismo totalmente fora de propósito”.

A representação é baseada numa norma do Conselho Nacional de Justiça que prevê punições para o juiz que agir de forma “incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções”. Os desembargadores do órgão especial vão decidir se a juíza merece algum tipo de punição – que pode ser uma advertência, seu afastamento da Vara da Infância e da Juventude ou mesmo uma demissão.

O vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Cláudio, Dell´Orto, acha que a juíza não fez qualquer provocação ao Tribunal. “Havia necessidade, como ainda há, de se aparelhar melhor a Justiça da Infância e da Juventude no Brasil todo, e me parece que esse ato prático é um ato simbólico no sentido de mostrar que os tribunais e toda a administração da Justiça deve estar mais próxima do cidadão e realizar o seu trabalho com mais eficiência e mais dedicação”, avalia.

Matéria do Jornal da Globo, de 13 de agosto de 2007


PUNIÇÃO À VISTA (*)

O presidente do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio), desembargador José Carlos Schmidt Murta Ribeiro, disse que a juíza Mônica Labuto Fragoso Machado, da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso Regional de Madureira, cometeu falta de desobediência a uma ordem dele e do corregedor-geral da Justiça, desembargador Luiz Zveiter. Ele classificou como desnecessária a atitude da juíza, que, na noite da última sexta-feira (10/8), despachou na calçada, a partir das 21 horas, quando o Fórum Regional de Madureira é fechado. Murta Ribeiro lembrou que o juiz tem autonomia no processo, mas que, dentro da instituição, ele tem que cumprir normas administrativas.

"No que diz respeito à jurisdição, ele é livre. Mas em relação à administração da Justiça, há uma hierarquia. Temos mais de 900 magistrados, imagine se cada um quiser fazer o seu próprio expediente. Horário forense é estipulado pela administração. Se há um júri, abrimos exceção", esclareceu o presidente do TJ. Murta Ribeiro disse que a juíza requereu à presidência do Tribunal de Justiça a ampliação do horário de funcionamento do Fórum de Madureira para depois das 21 horas. O pedido foi negado pela Administração, por medida de segurança.

"Não poderia ficar aberto após as 21 horas. O prédio é inteligente, as luzes e o ar condicionado são desligados automaticamente na hora determinada pela diretoria geral de segurança institucional. Não poderia ser atendido o pedido por medida de segurança da própria juíza, dos funcionários e das partes", afirmou Murta Ribeiro. Ainda de acordo com o presidente do TJ, outro impedimento para a permanência do fórum aberto após o horário é o fato de que no local há Varas Criminais e processos que precisam ser resguardados.

O desembargador ressaltou que o comportamento da juíza foi inadequado, uma vez que se houvesse algum auto de infração por parte dos comissários, as providências só poderiam ser tomadas na segunda-feira. Os processos têm prazos legais que devem ser respeitados. Segundo ele, a juíza poderia até mesmo despachar, se fosse necessário, no Plantão Judiciário do Fórum Central, que funciona das 18h às 11h, após o expediente forense. "Ela poderia despachar no Plantão Judiciário.

Não precisava ficar na calçada esperando o resultado da diligência, uma vez que só iria tomar providências na segunda-feira, quando começa a correr o prazo para a defesa da parte. A atitude dela está fora de propósito e dos parâmetros normais. Não precisava disso", afirmou o presidente do TJ. Ele disse ainda que a diligência da juíza na calçada do Fórum de Madureira foi ilegal porque não havia defensor e nem promotor de justiça, como no Plantão Judiciário.

A juíza Mônica Labuto responderá à representação com base na Resolução 30 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por comportamento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções. Os autos serão encaminhados ao Órgão Especial pelo corregedor-geral da Justiça, a pedido do presidente do TJ. Os 25 desembargadores do Órgão Especial irão receber ou não a representação e, de acordo com a Resolução do CNJ, as penas disciplinares previstas são advertência, censura, remoção compulsória, disponibilidade, aposentadoria compulsória e demissão. Segundo Murta Ribeiro, em todas as etapas do processo a juíza terá direito a defesa. "Que se faça o devido processo legal. A juíza terá 15 dias para apresentar sua defesa e nós vamos tomar as providências. Aqui, na casa da Justiça, não haverá arbitrariedades", ressaltou o presidente do TJ.

Mônica Labuto ingressou na Magistratura Estadual em junho de 1997 e antes de ser promovida para a Vara da Infância, da Juventude e do Idoso de Madureira, instalada em janeiro deste ano, ela atuou em Paracambi.

Matéria publicada no site Última Instância (http://ultimainstancia.uool.com.br) em 16 de agosto de 2007.

domingo, agosto 12, 2007

POLÍTICA

MOVIMENTO "CANSEI". MANIFESTAÇÂO DE CIVISMO OU GOLPE CONTRA O GOVERNO LULA?


Uma manifestação contra o governo Lula reúne cerca de 2.000 pessoas em São Paulo, segundo a Polícia Militar. Os manifestantes já passaram pela avenida Paulista (zona sul de São Paulo) --quando eram 500 participantes-- e passaram pela Brigadeiro Luiz Antonio. O destino é a Assembléia Legislativa, na zona sul, segundo a companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O grupo, acompanhado por um trio elétrico, se concentrado desde as 14h na esquina com a rua Pamplona. De lá, os manifestantes pretendem descer pela avenida Brigadeiro Luís Antônio até a Assembléia Legislativa.

A chamada "Passeata da Grande Vaia - Fora Lula" foi organizada pela internet. Os manifestantes pretendem realizar o movimento simultaneamente em outras 11 capitais.
Segundo a convocação, o objetivo do grupo seria dar "um basta à corrupção, ao desgoverno, à falta de segurança, ao caos aéreo, caos das estradas e escândalos, inclusive a do Senado". Vários participantes se dizem "de direita", mas afirmam que o movimento não tem vinculação partidária.

Em Brasília, o grupo reúne cerca de 80 participantes, segundo a PM, e caminha para o Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente Lula, para continuar os protestos.

Crise aérea não afeta aprovação de Lula, aponta Datafolha

Pesquisa do Datafolha publicada na Folha deste domingo, que já está disponível nas bancas, aponta que o acidente com o Airbus da TAM --que matou 199 pessoas no dia 17 de julho-- e a crise aérea pela qual passa o país há mais de dez meses não afetaram a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o levantamento feito nos dias 1º e 2 de agosto, 48% dos brasileiros consideram que o governo Lula continua ótimo ou bom, exatamente o mesmo índice registrado em março.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmou neste sábado a demissão do presidente da Infraero (estatal que controla os aeroportos), brigadeiro José Carlos Pereira. O cargo será ocupado pelo atual presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), Sérgio Gaudenzi. Em entrevista à Folha Online, Carlos Pereira afirmou que teve momentos "horríveis" durante sua passagem pela estatal, principalmente durante os acidentes da Gol, no ano passado, e da TAM. Ele disse, porém, que encara muito bem sua saída e que, com a crise aérea, "alguém deveria ser demitido".

"O ministro [da Defesa, Nelson Jobim] não queria me demitir. Mas disse a ele, 'tudo bem, alguém tem que ser demitido, a sociedade quer uma demissão'. Quem mais seria? a Aeronáutica? A Anac?", afirmou o brigadeiro. A Infraero é a estatal que cuida da infra-estrutura de 67 aeroportos, 84 unidades de apoio e 33 terminais de carga. Em 2006, arrecadou R$ 2 bilhões em taxas e concessão de espaços comerciais. Desde 2003, tem mais de 80 processos no Tribunal de Contas da União.

Vôo 3054

Também neste sábado foi confirmado que a TAM vai demolir neste domingo o prédio da TAM Express atingido pelo Airbus da companhia no último dia 17 de julho. No momento do acidente, funcionários da empresa trabalhavam no local.

Com relação às vítimas, o IML (Instituto Médico Legal) informou ter identificado neste sábado mais 12 pessoas. Com isso, subiu para 151 o número de nomes do acidente aéreo confirmados.

(*)Textos publicados no jornal Folha de S. Paulo

OS "CANSADINHOS" (**)
A seguir, o "who is who" no mundo do cansaço, da preguicinha, da estafa, da nhaca e da fadiga:

João Dória
É um emergente, uma espécie de "mestre-de-obras" que bota a mão na massa e faz o "serviço" que os realmente bem nascidos não encaram. Como bom serviçal, João Dória organiza encontros, realiza debates e ainda acha tempo para passeios com cães e bebês. É Presidente do "LIDE", grupo que reúne empresários para, basicamente, patrocinar campanhas políticas. O homem é "pé quente": despejou dinheiro em Serra (2002) e Alckmin (2006). Outro "mérito" de João Dória foi ter sido Presidente da Embratur no Governo Sarney.

Paulo Zottolo
É o empresário por trás do movimento. Na verdade, não é bem um "empresário", mas sim um gestor. Ele preside a Philips, e já presidiu a Nívea. Não é, portanto, um empreendedor, mas um "gerentão" a mando dos acionistas. O faturamento da Philips caiu - em ano de Copa do Mundo! - e Zottolo contratou Ivete Sangalo para representar a marca.

Jesus Sangalo
Seu grande mérito é ser irmão da Ivete. De resto, nunca fez nada de útil. Talvez tenha entrado para o "Cansei" porque sua irmã foi contratada a peso de ouro por Zuttolo, e Jesus levou seu "dízimo" nessa história. Ou então ele participa porque encarna, como ninguém, o nome do Movimento.

D'Urso
Presidente da OAB/SP e testa-de-ferro do movimento. Foi ele quem "emprestou o CNPJ" para a coisa toda acontecer. Advogado criminalista, ganha dinheiro defendendo gente honesta como os Bispos da Renascer. A OAB/SP, às custas da anuidade paga por TODOS os advogados paulistas, arca com as despesas do website da campanha. Se é uma campanha "individual", D'Urso teria que pagar do próprio bolso, e não com o dinheiro da OAB/SP, muito menos usar tal CNPJ para registrar o website.

São esses os "criadores" e principais integrantes. Nenhum negro, nenhuma mulher, nenhum pobre, nenhum menino de rua. Nada nem ninguém que meramente se aproxime daquilo que chamamos de "povo".

Fica no ar a pergunta: do que, afinal, esses ricos e abastados senhores estão "cansados"?


(**) Texto retirado do blog: www.tocansadinho.blogspot.com

SAÚDE PÚBLICA




UNE FARÁ CAMPANHA PARA LEGALIZAR ABORTO

Daniela Tófoli (*)

No comando da União Nacional dos Estudantes (UNE) desde o mês passado, mas oficialmente empossada ontem, Lúcia Stumpf, 25, aluna do sétimo semestre de jornalismo da Fiam, em São Paulo, quer levantar discussões que vão além da esfera estudantil. Seu primeiro projeto é lançar uma campanha pela descriminalização do aborto e fazer plebiscitos nas universidades. As ações, afirma, começam neste semestre. "Estamos organizando uma grande campanha nas universidades sobre a necessidade de descriminalizar o aborto no Brasil. A UNE tem de fazer uma discussão sobre isso porque é uma realidade que a gente vive", diz. Para ela, a entidade tem o dever de dar início ao debate e encaminhá-lo ao governo. "Estamos preparando o material e pensamos em fazer um plebiscito sobre o tema dentro das universidades."

Bonita, estilo patricinha e fã de punk rock, a primeira mulher a assumir a entidade em 15 anos diz que faria um aborto "sem nenhuma dúvida" e está preocupada com questões que se referem às condições de estudos das mulheres. "Em 70 anos de UNE, houve 50 presidentes homens e apenas quatro mulheres. Acho que isso mostra que mesmo a universidade e o movimento estudantil reproduzem muito do machismo que existe na sociedade brasileira."

Lúcia já marcou, para a semana que vai de 20 a 24 deste mês, o início do que chama de "jornada de luta": passeatas e invasões a reitorias para pressionar o governo a regulamentar o ensino privado e a melhorar o orçamento das universidades públicas. No dia 22, uma passeata unificada com movimentos sociais espera tomar conta de todo o país. "Queremos o aumento de R$ 200 milhões para as instituições federais para que sejam gastos apenas em assistência estudantil, como moradia, restaurantes e creches", diz. "Hoje a estudante que engravida é penalizada, é obrigada a abandonar os estudos porque é impossível conciliar a maternidade com a sala de aula."

Filiada ao PC do B há oito anos, filha de médicos e namorando há dois anos, a nova presidente fazia faculdade em Porto Alegre (RS) antes de vir a São Paulo por causa do movimento estudantil, mas diz não querer seguir carreira política. Lúcia foi eleita sem ter tido concorrentes e encara as invasões como uma das principais armas dos estudantes. "Invasão de reitoria é uma forma de pressão que temos e não descartamos ocupações em agosto, tanto em universidades públicas quanto em particulares."

Lúcia afirma que a principal luta da entidade hoje é nas universidades particulares. "Como 70% dos estudantes estão lá, e ainda não conseguimos inverter essa situação, temos de atendê-los. A maior parte da nossa base está na particular e é quem mais sofre com a má condição de ensino."

Assistência estudantil

Na tentativa de atender a reivindicação da UNE, que pede R$ 200 milhões para assistência estudantil nas universidades federais, Secretaria de Educação Superior do MEC divulgou, na sexta-feira da semana passada, que já está em fase de conclusão o Plano Nacional de Assistência Estudantil.

Pelo projeto, feito com a participação dos reitores das federais, os recursos previstos serão de 10% do orçamento das universidades --representarão, para 2008, mais de R$ 120 milhões. O valor é superior ao dobro dos investimentos deste ano (cerca de R$ 50 milhões). Assim, o MEC espera manter um diálogo com o movimento estudantil.

(*)Repórter da Folha de S. Paulo. Publicado no caderno Fovest de 10/09/2007

quinta-feira, agosto 09, 2007


PROFISSÕES


FEIRAS DE PROFISSÕES APROXIMAM CANDIDATOS E CARREIRAS

Luisa Alcantara e Silva(*)

Os vestibulandos que ainda estão em dúvida sobre qual carreira seguir podem aproveitar o mês de agosto para ter um contato maior com as profissões. Muitos eventos voltados para ajudar alunos do ensino médio a escolher suas carreiras acontecem agora. As feiras de profissões, organizadas em escolas, faculdades e cursinhos, reúnem profissionais de diversas áreas que estão ali para atendê-los, tirar dúvidas e falar sobre as faculdades.

Só a empresa Teenager Assessoria Profissional vai realizar três eventos. No dia 11, acontece o Fórum de Universidades e Profissões no colégio Dante Alighieri, aberto a alunos de todas as escolas. Cerca de 200 profissionais de 70 áreas diferentes ficam na escola das 11h às 17h. "O fórum é um local onde se pode ir e buscar informações sobre carreiras em um só dia", afirma Tadeu Patané, diretor da Teenager.

Segundo Patané, um estudante no terceiro ano conhece bem 20 profissões. "Além das mais tradicionais, nós mostramos também as novidades, que, muitas vezes, o aluno nem tinha ouvido falar."

A Unicid, que até 2005 "emprestava" seus profissionais --como diretores e professores-- a feiras externas, começou a fazer o seu próprio evento no ano passado. "Agora, os alunos vêm até a faculdade e conhecem os cursos aqui mesmo", diz Priscilla Freire, coordenadora do Você na Universidade, que acontece nos dias 9 e 10 de outubro. "Eles entram nos laboratórios e assistem a palestras. Saem da feira mais certos sobre o que querem".

O universitário Lucas Yamada, 17, que acabou de entrar em direito no Mackenzie, foi a uma feira de profissões no ano passado e diz que o evento lhe ajudou na escolha da profissão.

"Já sabia que eu queria fazer direito, mas não conhecia muito a área", diz ele. "Consegui esclarecer várias dúvidas com os profissionais que estavam na sala [de direito]." Ele conversou sobre a rotina de um advogado e o salário médio. "Saí bem animado da conversa, com mais certeza de que era aquilo o que eu queria mesmo."

Já a vestibulanda Bruna Renata Romanini, 18, que quer estudar jornalismo, está à espera da volta às aulas para escolher em qual feira irá. "Para pessoas que não têm como ver o ambiente de trabalho que estão escolhendo, as feiras são ótimas."

Formatos


Em algumas instituições, a feira é distribuída em salas de aula ou estandes. Cada espaço é ocupado por profissionais que ficam ali durante todo o evento.

Além disso, são ministradas palestras com os convidados e há até oficinas: para atrair vestibulandos, faculdades levam, por exemplo, uma cama de massagem --o profissional explica como é o curso de massoterapia dando uma miniaula prática ao interessado.

Em outras escolas, como o Divino Salvador, em Jundiaí (a 60 km de SP), a feira é dividida por tempo --os profissionais convidados fazem palestras, seguidas por perguntas dos alunos, em horários determinados pela organização do evento.

(*) Reporter do jornal Folha de S. Paulo