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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

quarta-feira, agosto 29, 2007

PROJETO MOTIVA ALUNOS DA REDE PÚBLICA

Daniela Arrais(*)

A estudante Mainã Nascimento, 17, nem cogitava se inscrever no vestibular da USP. "Achava que era coisa para gente rica, que tinha estudado em colégio superbom."
Quando recebeu a visita dos Embaixadores da USP em sua escola, a estadual Andronico de Mello (zona oeste de SP), mudou de opinião. "Vi que é possível passar no vestibular. Afinal, alunos daqui passaram", diz a vestibulanda, que vai tentar uma vaga em arquitetura. O projeto Embaixadores da USP, lançado em junho, consiste em convidar estudantes que cursaram o ensino médio em instituições públicas a irem às suas escolas e divulgarem a universidade.

"Queremos ampliar a divulgação, na escola pública, da USP", afirma a pró-reitora de graduação Selma Garrido. "Existe um distanciamento muito grande do sistema público de ensino das universidades públicas. Isso é construído no imaginário da população." Segundo a pró-reitora, a idéia do projeto surgiu a partir do programa Inclusp, que garante um bônus de 3% na nota do vestibular a estudantes que cursaram todo o ensino médio em instituições públicas.

"Sabemos que existem boas mentes que podem ser fertilizadas aqui na universidade, que têm competência intelectual, preparo, que podem sair daqui bem formados", acrescenta. Para o pró-reitor de cultura e extensão universitária, Sedi Hirano, existe uma resistência, por parte dos alunos, em se inscrever no vestibular. "Muitos estudantes têm o mito de que a USP é para filhos de pessoas ricas ou de classe média, e não para filhos da escola pública."

Esse era o pensamento de Natasha Roquini, 18, aluna do terceiro ano da Andronico de Mello. "Todo mundo quer entrar na USP. Antes, eu pensava "até parece que eu vou conseguir'", diz. Agora, ela se desdobra para conciliar as oito horas diárias de trabalho e as aulas na escola, rotina que a faz ficar das 6h30 às 23h30 na rua. Daniela Granados, 17, vestibulanda em dúvida entre turismo e hotelaria, também ficou motivada após a visita. "Eles falaram que, se a gente tiver força de vontade, consegue entrar."

O esforço é a aposta de Raphel Dantas, 18, que estudou com alguns dos embaixadores. "A USP nunca foi um sonho distante. A visão da maioria dos alunos é que escola pública é ruim, mas passar no vestibular depende de você mesmo." Giulliany Leal Russo, 25, caloura de pedagogia e embaixadora da USP, acha que os alunos precisam ter confiança. "É bom ter um plano de estudo, pedir ajuda a professores, se inscrever em um cursinho popular. E, principalmente, confiar no seu potencial. Se achar que não vai passar, é melhor nem fazer a prova."

Na escola pública, aluno concilia trabalho
Colaboração para
Alunos de escola pública costumam dividir a rotina entre o trabalho e a escola. É assim com José Roberlando, 18, que trabalha oito horas por dia como assistente financeiro, assiste aulas à noite e ainda passa o sábado, das 7h às 18h, no cursinho pré-vestibular."Quero entrar na universidade, então o esforço vale a pena", afirma o estudante, que está em dúvida entre os cursos de economia e ciências contábeis. Após a visita dos Embaixadores da USP, Roberlando deixou os questionamentos de lado e se inscreveu para o processo seletivo da USP. "O mercado de trabalho vê a USP como um centro de ponta, o que dá mais oportunidade para a nossa realização profissional", analisa.

Em busca dessa realização, Jorzino da Cruz Neto, 24, prestou vestibular na USP, no ano passado --escolheu o curso de licenciatura em geociências e educação ambiental. "Eu tinha me formado na escola em 1999, estava há muito tempo sem estudar. Mas resolvi prestar o vestibular atraído pela isenção da taxa. Queria conhecer a prova", lembra.

O calouro se surpreendeu com a aprovação. "Estudei apenas para a segunda fase. Mesmo assim, consegui provar que é possível passar na USP vindo de uma escola pública", diz o hoje embaixador da USP. Para ele, o processo do vestibular é diferente para quem estuda na rede pública e na particular. "O aluno da pública acha que o ensino é de péssima qualidade. Mas se ele começar a pensar que o professor tem o que ensinar, se ele começar a pensar que pode ser aprovado, já aumenta a chance de conseguir entrar na universidade."

Para a professora de biologia da Andronico de Mello Maria Regina Trevizani, os alunos precisam de estímulo. "A clientela é heterogênea, mas o nível geral é muito bom. Tem muita gente com condições de entrar na universidade. Para isso, o aluno precisa confiar no seu potencial", afirma.

(*) Mátéria publicada em 28/08/07 no caderno Fovest, da Folha de São Paulo