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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

quarta-feira, setembro 17, 2008

REDAÇÃO


PESO NA NOTA DO VESTIBULAR COMPENSA TREINO INTENSO

A diferença entre ter o nome na lista de aprovados no vestibular ou não é definida, muitas vezes, pelo desempenho na redação, que tem um grande peso na nota dos principais processos seletivos.

Na Unicamp, por exemplo, ela vale metade da nota da primeira fase, que tem ainda uma prova com 12 questões discursivas. Na Fuvest, a redação corresponde à metade do exame de português da segunda fase.

"O vestibulando precisa dar a devida importância para a redação, como se fosse uma outra disciplina, e treinar, treinar muito", afirma Daniela Mamede Aizenstein, professora de redação do CPV Vestibulares. "É preciso romper a inércia e escrever pelo menos uma vez por semana", recomenda.

E como, em geral, os textos exigidos são dissertações, é preciso estar afiado nos argumentos que usará para embasar a sua tese ou opinião e garantir uma boa nota.

Muitos vestibulares trazem uma coletânea de textos com diferentes abordagens sobre o tema. Podem ser trechos de reportagens de jornais, revistas ou quadrinhos. O que fará a diferença será como o candidato irá interpretá-los e o que acrescentará do seu conhecimento ou posicionamento sobre o assunto. A proposta da redação deve ser sempre seguida, sob risco de ter a nota zerada.

"A redação é resultado de uma reflexão com base na leitura da coletânea, que, obrigatoriamente, deve ser usada", afirma Thaís Nicoleti de Camargo, consultora de português do Grupo Folha-UOL e autora do livro "Redação Linha a Linha". "O vestibulando deve se posicionar sobre o tema, mas escrever de forma impessoal, ou seja, nada de usar no texto: "Na minha opinião..." ou "Eu acho..."."

O assunto pedido pode variar muito. Segundo a coordenadora de português do Etapa, Célia Passoni, os temas da Fuvest costumam ser mais abstratos, como mundo digital (o do vestibular 2008), amizade (2007) e trabalho (2006). Na Unicamp, estão mais ligados à vida prática, como saúde (2008) e agricultura (2007).

Quanto mais referenciais e bagagem cultural o estudante tiver, mais interessante ficará o conteúdo da redação. "O conhecimento de mundo conta muito. É preciso estar sempre bem informado. Os editoriais são uma ótima maneira de ler um texto argumentativo e se manter atualizado", avalia Maria Creide Cordeiro, coordenadora de língua portuguesa do colégio Dante Alighieri, na zona oeste de São Paulo.

Ficar de olho no relógio enquanto treina a redação é outra recomendação dos professores para, no dia em que for para valer, conseguir fazer o texto no prazo sem problemas.

"Procuro cronometrar o meu tempo. Deixo uns 15 ou 20 minutos para o rascunho e o restante para o desenvolvimento", diz Thaiza Goda Tolai, 20, que pretende cursar direito.

Leitura e coesão do texto são analisadas nos vestibulares
Mais do que correção ortográfica, os vestibulares estão preocupados mesmo é em avaliar a capacidade de leitura e reflexão e a coesão do texto.

"A redação serve para analisar essas competências, que as questões ou testes não conseguem", afirma Francisco Platão Savioli, professor de português do Anglo. "O candidato deve escrever na norma culta da língua. Se o texto estiver muito bem encadeado, os pequenos problemas de gramática ou ortografia não pesarão tanto."

Na Fuvest, serão levadas em conta três características: tema e desenvolvimento, estrutura e expressão. A Unicamp exige que o candidato use de alguma maneira a coletânea de textos dada. Vale a pena consultar o site das instituições para ver exemplos de boas redações.

Correção
As provas são corrigidas sem que o examinador saiba quem é o candidato. Em geral, é feita uma cópia eletrônica do texto, que, em seguida, passa por dois examinadores. Se houver grande discrepância entre as notas, um terceiro corrige.

No ano passado, a redação fez com que Bruna Danielle da Silva Dias, 18, não passasse no vestibular. Ela tenta uma vaga em engenharia química.

"Eu treinava pouco e acabei indo mal. Neste ano, coloquei em primeiro plano a redação e tenho escrito bem mais. Isso vai me ajudar, inclusive, na hora de responder as questões discursivas."

Camila Mucheroni Vidiri, 21, que concorre a uma vaga em medicina, concorda: "Em carreiras muito concorridas, a redação faz toda a diferença, porque os candidatos mais bem preparados vão bem em todas as disciplinas".



"Redação Linha a Linha"
Autor: Thaís Nicoleti de Camargo
Editora: Publifolha
Páginas: 152
Quanto: R$ 29,90

Fonte: Caderno Fovest, da Folha de S. Paulo

terça-feira, setembro 09, 2008

OURO NEGRO


A maldição do petróleo



Está todo mundo feliz com a descoberta de reservas gigantes de petróleo no Brasil. Acontece que, quase sempre, achar petróleo é uma péssima notícia

Por Denis Russo Burgierman (*)


O presidente Lula comemorou a imensa descoberta de petróleo ano passado dizendo que “Deus é brasileiro”. Antes de celebrar, talvez ele devesse ouvir a opinião do venezuelano Juan Pablo Pérez Alfonso (1903-1979), fundador da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Para ele, petróleo não é indício da mão de Deus, mas sim do intestino do demo. Juan Pablo costumava dizer que petróleo é o “excremento do diabo”.

Ele sabia do que estava falando, já que viu sua Venezuela erodir suas instituições democráticas e se perder em corrupção. É assim na maioria dos grandes exportadores de petróleo. Quase todos são ditaduras intermináveis, como o Iraque de Saddam e a monarquia saudita. Eles crescem menos que seus vizinhos sem petróleo e seus problemas sociais levam mais tempo para ser resolvidos. Vários são países devastados por guerras civis. Mesmo as democracias do óleo tendem a ser pouco democráticas. Veja o México, onde um mesmo partido, o PRI, ficou no poder por mais de 70 anos. Dos 20 maiores exportadores de petróleo do mundo, 16 são ditaduras. E outros dois – México e Venezuela – são democracias com instituições fracas. A maioria está nos últimos lugares do mundo em desenvolvimento humano, e entre os primeiros em desigualdade e endividamento. É nesse clube que o Brasil está prestes a entrar. Será que devíamos mesmo estar comemorando? E será que tem algum jeito de escapar da “maldição do petróleo”?

Por que petróleo faz tão mal? Como é que uma das mercadorias mais valorizadas do mundo pode gerar pobreza, guerra e autoritarismo? Nos últimos anos, economistas e cientistas políticos encontraram uma série de explicações.

A primeira: petróleo enfraquece a economia. Ele custa tão caro que uma cachoeira de dólares entra no país. Com muitos dólares em caixa, a moeda nacional se valoriza. Resultado, fica barato importar produtos estrangeiros e caro produzir – aí a indústria nacional definha. Só que o preço do petróleo é uma montanha-russa. Em 1990, o barril custava mais de US$ 40. Meses depois, caiu para menos de US$ 20. Enquanto este texto era escrito, um barril custava US$ 135. Essas altas e baixas destroem qualquer um. O preço sobe, o país se alaga de dólares e as indústrias fecham. O preço cai, secam os dólares, o país se endivida e não tem indústria para ajudar.

A segunda: petróleo distancia os políticos do povo. A maioria dos grandes exportadores de petróleo nem cobra impostos da população. Não precisam. Têm dólar sobrando. Os governos não prestam contas a ninguém, roubam descaradamente, torram dinheiro público e a sociedade civil é fraca, desestruturada.

A terceira: petróleo torna a política mais burra. A maioria dos países exportadores não tem um projeto de desenvolvimento, apenas grupos rivais brigando pelo poder – e pelo acesso ao poço de dinheiro. Quando chegam lá, gastam que nem loucos, sem planejamento, para não deixar nada para os rivais.

Quer dizer então que nos ferramos? Não. Num certo sentido, o Brasil deu sorte de virar exportador justo agora, quando estudiosos estão desvendando os mecanismos da maldição e inventando antídotos. Outra sorte é que o nosso petróleo está enterrado bem fundo, e vai demorar para começar a jorrar. Ou seja, dá tempo de nos prepararmos. Só que devemos trabalhar já, antes de o petróleo começar a ser vendido. Veja o que precisamos fazer:

1. Ter um projeto de país. Está na hora de governo, oposição e sociedade civil discutirem que tipo de país nós queremos. Claro que não vamos concordar em tudo, mas dá para alcançar alguns consensos. Por exemplo: o de que precisamos de educação básica decente, de infra-estrutura, de um sistema de saúde, de pesquisa científica, de proteção ao ambiente. O papel da imprensa é discutir essas questões e informar a sociedade, para que todo mundo possa participar. Com todo mundo de acordo com esse projeto, podemos planejar a longo prazo o uso do dinheiro do óleo – e cada governo novo tem a obrigação de continuar o que o anterior começou.

2. Proteger a economia. Quando o dinheiro vier, nos encheremos de dólares. Precisamos evitar que essa dinheirama inunde a economia e supervalorize o real. O ideal é colocar tudo numa conta separada, que precisa ser vigiada de perto pela oposição e pela sociedade civil, para que ninguém tire dela mais do que o permitido. O governo só pode sacar até um certo limite, e deixar o resto guardadinho para os nossos netos. Se o preço do petróleo cair, pode sacar um pouquinho mais para evitar depressão na economia. Se subir, é hora de guardar para tempos bicudos. E tudo o que o governo sacar tem que ser usado para colocar em prática o projeto de país descrito no item 1. Nada de aumentar a gastança do governo.

3. Transparência. O único jeito de evitarmos que surrupiem a grana é abrirmos todas as janelas. Precisamos que cada funcionário do governo tenha obrigação de prestar contas do que faz. Precisamos de organizações independentes destinadas a investigar gastos públicos. Precisamos de uma imprensa menos gritona e mais vigilante e racional. Precisamos que cada órgão do governo tenha como uma de suas funções fiscalizar um outro órgão do governo. Precisamos que o orçamento seja claro, transparente e público. O saldo da conta do dinheiro do petróleo, por exemplo, tem que poder ser acessado online por qualquer brasileiro. Se fizermos tudo isso, o petróleo não só deixará de ser uma maldição como resolverá a maioria dos problemas do Brasil. Está aí a Noruega, 3a exportadora de petróleo e 2o maior índice de desenvolvimento humano do mundo, para provar que é possível. Mas, se não fizermos a lição de casa... Hmm, a coisa vai feder.

(*) Repórter da Revista Superinteressante. Reportagem publicada em 07/2008