MIGRANTE GANHA MAIS QUE LOCAL E CONTERRÂNEO
Segundo estudo de economistas da USP, da FGV e da Universidade da Pensilvânia, renda é 8,5% e 15% maior
Maeli Prado (*)
Pela primeira vez, o senso comum que diz que o migrante é um vencedor, ao ter êxito apesar das adversidades próprias de ganhar a vida longe da terra natal, encontra respaldo acadêmico no Brasil. Um estudo publicado na última revista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento, mostra que quem migra ganha, em média, 8,54% mais do que o não-migrante que mora no seu Estado de destino (do migrante).

A partir desses cálculos, o peso de cada um desses fatores foi excluído na hora de comparar a renda dos dois grupos, de forma que a única diferença levada em consideração fosse o fato de que um dos grupos migrou e o outro não. De acordo com as conclusões dos pesquisadores, a explicação mais forte para a diferença salarial que aparece nos dados a favor do migrante é que este faz parte de um grupo positivamente selecionado. Ou seja, quem migra é, na média, mais apto, motivado, empreendedor ou ambicioso. "Há um risco muito grande na migração, porque o destino é um ambiente mais hostil do que sua casa. O fato de que nesse ambiente o migrante já estaria saindo um pouco em desvantagem, e mesmo assim na média ganha mais, é um forte indicativo de que ele, de alguma forma, é mais habilidoso, tem mais força de vontade", diz Ferreira, da FGV. "Essa seria uma característica que o leva a migrar", completa o economista. "O interessante é que, além de ganhar mais do que o não-migrante do seu Estado de origem, o migrante também ganha mais que o não-migrante do seu Estado de destino", afirma Menezes Filho, da USP. Significa dizer, apenas como exemplo, que o baiano que veio para São Paulo ganha 15,07% mais, na média, do que o baiano que ficou na Bahia. E ganha 8,54% mais também que o paulista que permanece em São Paulo.
Escolaridade menor
Outro ponto citado no estudo para reforçar a tese de que os migrantes são "positivamente selecionados" é que eles, na média, possuem escolaridade menor do que os que não migraram. Nesse caso, os economistas usaram dados gerais, são "filtrados", que apontam que cerca de 56% dos migrantes ganham mais do que R$ 8 por hora. O percentual dos não-migrantes cuja renda é maior do que essa é menor, de 49,4%. Ao mesmo tempo, números também não "filtrados" mostram que 57% dos migrantes estudaram menos do que oito anos, contra 53,7% no caso dos não-migrantes. "É uma aparente contradição, pois mesmo tendo menor escolaridade eles têm salários maiores, na média. Esses dados reforçam a tese da seleção positiva", afirma Cavalcanti.
Estados Unidos
O estudo dos economistas brasileiros, que dá força à tese de que o migrante é mais motivado e empreendedor do que o não-migrante, é semelhante a trabalhos realizados anteriormente por pesquisadores americanos. Estes chegaram à conclusão de que as pessoas que moram nos EUA, mas vieram de outros países, são mais aptas e ambiciosas do que os que nasceram em solo norte-americano. Uma preocupação citada no trabalho dos brasileiros, que aparece também em estudos americanos, é a influência que a migração exerce sobre a distribuição de renda no país: o fato de trabalhadores mais aptos irem para outros Estados poderia acentuar a desigualdade de salários no país.
Um estudo realizado recentemente sobre esse tema por Cézar Augusto Santos, mestrando da FGV em economia, sugere que a migração, na verdade,

Cariocas ganham mais
Segundo o estudo publicado pelos economistas, os migrantes cariocas são os que ganham mais (22,53%) em relação aos trabalhadores não-migrantes do Estado para o qual migraram. Em seguida vêm os migrantes paulistas, com 14,08% a mais. O sergipano também ganha mais em relação ao trabalhador não-migrante que reside no Estado que ele escolheu para morar: sua renda média é 9,21% maior. Nos casos dos cearenses, baianos, paraibanos e pernambucanos, esses percentuais são de, respectivamente, 8,65%, 7,33%, 8,2% e 7,8%. Os migrantes do Maranhão são os únicos que aparecem com salários menores do que o restante dos trabalhadores residentes no seu Estado de destino: ganham, em média, 4,08% menos.
Apesar do fluxo migratório ocorrer, em geral, dos Estados mais pobres para os mais ricos, um movimento mais recente é o dos gaúchos e dos paranaenses que vão para Estados como Piauí ou Rondônia, atraídos pelas novas fronteiras agrícolas.
"É OUTRO ESTILO, A GENTE VAI EM FRENTE E VENCE"
Há 62 anos, Pedro Rodrigues de Almeida, filho de um exportador de fumo arruinado pela entrada da Alemanha, onde estavam seus principais clientes, na Segunda Guerra Mundial, saía de Conceição da Feira, cidade do interior da Bahia, para trabalhar em um armazém em outra cidade baiana, Umburanas. Na época, Almeida tinha 14 anos. Seria a primeira das várias migrações de Almeida, que seguiu a carreira de consultor de lojas de confecções que queriam instalar-se no Brasil. A migração definitiva foi em 1959, quando fundou uma indústria têxtil em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Hoje com 76 anos, Almeida preside a Rutilan, que tem faturamento mensal de mais de R$ 400 mil. Também diretor adjunto do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), ele atribui o seu sucesso ao fato de ter tido coragem de deixar sua terra natal.
Lula e Mailson
"O migrante tem outro estilo de trabalho. Quando se depara com uma oportunidade ele vai em frente, e vence", afirma. São vários os casos parecidos com o de Almeida, a começar pela história de Luiz Inácio Lula da Silva, nascido na miséria no município de Garanhuns, no interior de Pernambuco, e eleito presidente da República. Lula veio para São Paulo no início dos anos 50.
Uma dessas histórias é a do paraibano Mailson da Nóbrega, 63, ex-ministro da Fazenda e atualmente sócio da consultoria Tendências. Nascido

Esforço tem de ser maior
"O migrante trabalha em um meio que não é o dele, compete com gente que já está estabelecida. O esforço tem de ser maior", diz o ex-ministro. "Sofri discriminação em determinados momentos. Em um mercado tão competitivo, é preciso ter senso de sobrevivência", afirma o publicitário baiano Sérgio Amado, 57, que hoje, morando em São Paulo, preside a agência de publicidade Ogilvy. Amado começou a trabalhar aos 14 anos e fundou uma agência de publicidade ainda em Salvador, a D&E. Mas considera que sua carreira deu uma guinada maior ao vir para São Paulo, depois de ter vendido tudo o que possuía na Bahia.
"Comprei 25% de uma agência que estava com problemas financeiros sérios, a Denison. Podia ter escolhido voltar para a Bahia por causa desses problemas, mas escolhi ficar. Implementei algumas reformas e a agência passou a ser reconhecida no mercado." Amado preside a agência Ogilvy, que comprou a Denison há 13 anos. "Hoje há uma grande safra de baianos iniciando carreira nas agências de publicidade", afirma Amado. Outros casos de publicitários baianos que migraram, esses já consolidados no mercado, são Nizan Guanaes e Sérgio Gordilho, ambos da Africa.
(*)Repórter da Folha de S. Paulo. Matéria publicada na edição de 12/02/2006.
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