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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

sexta-feira, janeiro 27, 2006

TRABALHO: Mercado exclui os jovens e os menos instruídos

Desde o início do governo Lula, o mercado de trabalho se tornou mais seletivo e passou a excluir jovens e pessoas com menor grau de instrução, apesar do crescimento do emprego -de 3% de 2003 a 2004. Segundo o IBGE, a participação das pessoas com 11 anos ou mais de estudo (ensino médio ou curso superior completo) entre os empregados passou de 46,7% para 50,3%. Foi a primeira vez em que esse contingente superou a marca de 50%. Já a faixa com mais de 50 anos cresceu de 16,8% para 18%. Quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo, em 2002, a média mensal do número de empregados era de 18,669 milhões nas seis regiões. O número passou para 19,830 milhões no ano passado. Para Marcelo de Ávila, economista do Ipea, tais mudanças ocorreram tanto por fatores conjunturais quanto estruturais, como o envelhecimento da população. Mas o determinante, para ele, é a distorção no mercado de trabalho gerada pela crise de 2003 e pelos sucessivos anos de recuo da renda.

Desempregado ou ganhando menos, o chefe de família teve de contar com ajuda de um filho ou da mulher para complementar o orçamento familiar ou compensar a falta de emprego, mesmo que ajudando no próprio negócio da família, diz. Passada a crise, essas pessoas estão saindo pouco a pouco do mercado de trabalho e voltando a estudar ou cuidar da casa relata o pesquisador.

O crescimento do emprego, no entanto, não foi uniforme: o contingente de jovens de 18 a 24 anos teve crescimento de apenas 0,2%; o de pessoas de 25 a 49 anos, de 3,5% e o de 50 anos ou mais de idade, de 6,3%. Segundo Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, a mudança na estrutura pode ser explicada pelo mercado de trabalho mais seletivo, que prioriza profissionais com experiência e, por outro lado, ao aumento da renda do trabalhador, que faz com que os jovens adiem a entrada no mercado de trabalho. Houve também aumento do emprego formal -mais vagas com carteira assinada.

GOVERNO CONTRATA MAIS
Dois especialistas em mercado de trabalho ouvidos pela Folha consideraram bastante animadora a diminuição do índice de desemprego ocorrida em dezembro, mesmo tendo ela ocorrido durante uma época do ano em que, normalmente, fatores sazonais empurram a taxa para baixo. "É uma queda animadora, mas dificilmente se repetirá nos próximos meses com igual magnitude", afirmou o sociólogo José Pastore, pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Para ele, além das contratações temporárias nas áreas de comércio e serviços, o governo teve um papel decisivo para inflar o número de postos de trabalho.

Pastore lembrou que vagas preenchidas em setores nos quais o Poder Executivo tem ampla atuação (educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social) cresceram 4,3% em dezembro de 2005, ante igual período de 2004. Em números totais, isso significa que 129 mil pessoas a mais foram contratadas para atuar nas áreas citadas acima. "A lei impede o governo de empregar novas pessoas perto das eleições, por isso houve uma aceleração das contratações em 2005", afirmou Pastore. "É provável que elas continuem acontecendo nos próximos meses."

O economista da Hélio Zylberstajn, da Universidade de São Paulo, discorda e aponta outro motivo para os bons resultados de dezembro: a desistência dos brasileiros de procurar trabalho. "É uma conta simples: entre novembro e dezembro houve uma redução de 300 mil pessoas nos registros de desempregados. Em contrapartida, o número de empregados teve um acréscimo de 100 mil indivíduos", ponderou ele. "Logo, 200 mil deixaram de procurar uma vaga."

Isso pode ter ocorrido, diz, pela combinação da proximidade das férias de quem estuda ou está empregado com o fato de mais chefes de família terem conseguido um posto, o que permitiria a outros parentes desistir de trabalhar. Pastore e Zylberstajn apontam como preocupante o aumento acentuado da renda no mercado informal. O dado, segundo ambos, leva a crer que cada vez mais profissionais qualificados estão sendo empurrados para fora da legalidade, por conta do alto custo que representam para empregadores. Eles também estariam tentando diminuir a própria carga tributária.

(*) Reportagens publicadas na Folha de São Paulo, em 27/01/2006.