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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

terça-feira, janeiro 17, 2006

VIDA UNIVERSITÁRIA:

SETOR PRIVADO ENFOCA MERCADO

Segundo pesquisadora, universidades públicas possuem uma "lógica mais acadêmica"


Constança Tatsch (*)

Estudar em uma universidade particular, para grande parte dos estudantes, representa uma segunda opção. Apesar disso, muitas instituições privadas atendem bem às demandas dos alunos, especialmente no que se refere à entrada no mercado profissional. "Do ponto de vista da formação, se a perspectiva é entrar no mercado de trabalho, o aluno é mais bem-sucedido no setor privado", afirma a pesquisadora do Nupes (Núcleo de Pesquisa sobre o Ensino Superior) da USP Elizabeth Balbachevsky. De acordo com ela, cursos novos como moda, design e hotelaria, e outros mais tradicionais na área de administração e comunicação, por exemplo, são muito bons nas privadas. "A pública não consegue cobrir essa demanda e quando faz fica ruim. Isso é um ensino necessário e importante e a pública trabalha com uma lógica exclusivamente acadêmica", diz. Isso porque os professores não vão ser avaliados "pela competência, pela experiência, pelo conhecimento do mercado, mas sim se têm doutorado, se publicam no exterior etc.".

Para a melhoria da qualidade no setor houve um aumento na circulação de pessoal entre as instituições públicas e as privadas. "Antes, o professor do setor privado era de colegial, completamente alheio à vida acadêmica", diz Elizabeth. Uma vantagem dos alunos das particulares é que eles estão praticamente livres das greves. De acordo com o presidente do Semesp (sindicato dos estabelecimentos de ensino superior do Estado de São Paulo), Hermes Ferreira Figueiredo, o setor privado está há 17 anos sem greve de professores ou funcionários."A primeira vantagem de quem escolhe uma faculdade privada de bom nível é o respeito aos direitos dos alunos. Ele contrata um serviço e nós prestamos esse serviço. Isso [a greve] é um prejuízo enorme de tempo e de eficácia para os alunos", diz Figueiredo. Essa lógica de mercado acaba sendo um ponto positivo. "A universidade pública, de maneira geral, não é atenta às necessidades do aluno, tem uma lógica de funcionamento burocrática", afirma Elizabeth.

A professora cita como exemplo o curso de relações públicas, na USP, no qual os estudantes, com o passar do tempo, migram para o período noturno, mas os serviços de atendimento ao aluno fecham à noite. "Isso jamais aconteceria no setor privado porque os alunos botariam a boca no trombone." "Nas principais particulares, há renovação de equipamento, acervo, infra-estrutura. Recebem investimento com mais facilidade e rapidez, de acordo com a demanda", completa Figueiredo. Apesar de tudo, para muitos, a escolha da faculdade ultrapassa essas questões e pode ter um aspecto mais subjetivo. Fernanda Guerreiro Barbizan, 18, presta direito e não quer a São Francisco porque diz que não gosta do jeito do curso, das pessoas e do ambiente. "A USP, todo mundo sabe, tem cursos ótimos e outros que não são tudo isso. Não estou dizendo que não é bom, mas não me encaixo no perfil." Para Fernanda, há muito glamour em torno da universidade. "Acho a USP meio presa às regras, até porque tem toda aquela pompa. As particulares te deixam mais solto. Acho o ensino melhor até. É um dinheiro bem investido", opina.

VESTIBULAR
Entrar em uma faculdade privada também pode significar abreviar o tempo de vestibular. Any Julia Urbieta, 21, cursou pedagogia na USP e se decepcionou com o curso e com a universidade. Na hora de escolher uma faculdade para estudar administração, preferiu uma particular. "Nem passou pela minha cabeça prestar USP de novo. Como eu já tenho 21 anos, não queria perder mais tempo." Ela diz estar feliz com sua escolha. Foi aprovada e já recebeu proposta de estágio, antes mesmo de fazer a matrícula. "É uma instituição que já conheço, amigos me disseram que tem bons professores, o curso é bem aceito no mercado e a faculdade é conceituada."

OPÇÃO POR PARTICULAR PEDE PESQUISA

É preciso verificar credenciamento no MEC, infra-estrutura, docentes e conteúdo do curso


Fernanda Calgaro (*)

Nesta época do ano, quando os principais vestibulares do país já ocorreram, o foco de muitos candidatos que não se saíram bem nessas provas se volta para a seleção de faculdades privadas, algumas delas sem renome ou tradição na área escolhida. Infra-estrutura moderna, acervo da biblioteca e laboratórios equipados com tecnologia de ponta são alguns dos aspectos que devem ser levados em conta. Se não for possível visitar o campus, conversar com alunos ou egressos do curso e ver a página da instituição na internet ajudam. O candidato deve ainda analisar atentamente o conteúdo do curso e a carga horária para ver se o que será oferecido lhe convém. A participação em periódicos especializados e o desenvolvimento e a publicação de pesquisas refletem o comprometimento da instituição e são indicativos de que ela está inserida no meio acadêmico.

No entanto, antes de mais nada, o aluno deve saber se a instituição é credenciada pelo Ministério da Educação. Em seguida, se o curso é reconhecido ou, ao menos, autorizado. "Se a faculdade não for credenciada, o aluno deve procurar a delegacia mais próxima", alerta Orlando Pilati, coordenador-geral de Acreditação de Cursos e Instituições do MEC. Já o reconhecimento dos cursos ocorre após a sua autorização. "Não há problema se o aluno começar a fazer um curso que ainda não tenha sido reconhecido, desde que esteja autorizado, porque, mais para a frente, o reconhecimento deve sair. E mesmo que a decisão final seja a de não reconhecer o curso, ainda assim os alunos terão seus direitos garantidos e receberão o diploma", completa Pilati.

Este foi o caso do designer gráfico Cristiano da Silva Lima, 23, que, quando começou a fazer a faculdade, o curso era apenas autorizado pelo MEC. "Eu não sabia disso, mas, como o curso foi bem indicado por diferentes pessoas, resolvi fazer assim mesmo. Quando estava no segundo ou no terceiro ano, ele foi reconhecido e não houve problema algum."

PROFESSORES
A qualificação e a titulação do corpo docente também irão refletir na qualidade do ensino, ressalta Hermes Ferreira Figueiredo, presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo). "Se o professor trabalhar em muitos lugares e não tiver dedicação em tempo integral, ficará mais complicado dar atenção ao aluno", pondera. Para Elizabeth Balbachevsky, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior da USP, é fundamental que o curso tenha ainda um bom coordenador. "Às vezes, um coordenador renomado é chamado apenas para dar prestígio, mas quem toca o dia-a-dia é outra pessoa. Se o coordenador for experiente e comprometido com o curso, já será meio caminho andado."

O desempenho dos alunos no Enade também pode ser consultado para ter uma referência do aproveitamento do curso, assim como a avaliação da instituição pelo Ministério da Educação. "O aluno precisa estar atento aos indicadores para separar o joio do trigo e para que a escolha não seja uma aventura", afirma Elizabeth.

CUSTO
O valor da mensalidade não deve pesar tanto na decisão do candidato, de acordo com o presidente do Semesp. "[O aluno] Não deve se prender unicamente pelo preço, porque manter professores de alto nível, equipar laboratórios e ter uma administração profissional têm um alto custo", ressalta Hermes Ferreira Figueiredo. "Se a mensalidade estiver muito aquém da média cobrada no mercado, o aluno deve desconfiar."