MENOS POBRES NA SEGUNDA FASE DA FUVEST
Na 1ª etapa do vestibular, 42,8% dos estudantes tinham renda inferior a R$ 1.500. Agora são apenas 22%
Renata Cafardo (*)
A proporção de estudantes carentes que participarão amanhã da segunda fase da Fuvest caiu em relação à dos que fizeram

Pedro Germano dos Santos Murara, de 19 anos, acertou 30 das 100 questões da primeira fase. Para continuar na disputa por uma vaga em Geografia, ele precisava ter acertado 47. Pedro culpa a rede pública de ensino. "Professores de física, por exemplo, eu praticamente não tinha." Filho de um motorista e de uma dona de casa, Murara diz que vai continuar tentando ingressar na universidade pública. "Quero ser professor para melhorar a escola. Meu sonho é ser ministro da Educação."
A porcentagem de estudantes que fizeram o ensino médio em escolas estaduais era de 41,8% entre os inscritos e diminuiu para 21,3% entre os convocados para a segunda fase. Em 2005, eles eram 23,4%. Entre os que cursaram o fundamental na rede pública também há diferença. Os alunos pretos e pardos representam cerca de 4 mil alunos (12,9%) na segunda fase e eram 39 mil (23,1%) entre os inscritos.
EXPLICAÇÃO DIFÍCIL
O diretor da Fuvest, Costa, diz que ainda vai estudar a razão da queda nos índices. Mas explica que muitas variáveis influenciam no resultado. Uma delas pode ser o fato de a prova ter sido um pouco mais difícil neste ano. As notas de corte - calculadas a partir do desempenho dos candidatos - foram mais baixas. A médias na primeira fase foi de 41,39 neste ano. Em 2005 era de 47,74.
"Quando se faz uma campanha com muita isenção, vêm mais alunos carentes, mas vem também mais gente menos preparada", sugere Costa. E a fórmula matemática que organiza a convocação para a segunda fase faz com que quanto pior a média no curso, menos alunos sejam convocados.
Para frei David dos Santos, da ONG Educafro, o problema é que a prova da Fuvest "é direcionada aos alunos da elite, que estudam em escolas particulares e pagam cursinhos". Segundo ele, 75% das questões da primeira e da segunda fase não foram estudadas nas escolas públicas. "É uma missão quase impossível", concorda o presidente da Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural (Afrobras), José Vicente, que oferece cursinho gratuito para estudantes pobres e negros.
A maior inclusão de estudantes carentes na USP foi anunciada como uma das maiores preocupações da nova reitora, Suely Vilela. A idéia de adotar cotas em seu vestibular não é bem recebida na universidade e as isenções da taxa e a abertura da USP Leste - que, de fato, ampliou o número de alunos carentes - foram, até agora, apresentadas como opções.
(*)Repórter do Jornal O Estado de S. Paulo. Matéria publicada na edição de 07/01/2006.
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