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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

quinta-feira, dezembro 22, 2005

EDUCAÇÃO: ALUNO DA REDE PÚBLICA É MELHOR NA UNICAMP
















Nota desses estudantes foi superior à dos da escola privada em 29 dos 55 cursos analisados no primeiro semestre

Fábio Takahashi (*)

Eles saíram atrás. Seis meses depois, já estavam à frente. Esse é o resultado da análise do desempenho dos estudantes de escola pública que ingressaram neste ano na Unicamp em comparação aos da rede particular. Dos 55 cursos analisados, esses alunos tiveram notas mais altas em 29 durante o primeiro semestre letivo. Em outros quatro, as médias foram idênticas. Isso significa que em 60% das carreiras o desempenho dos universitários provenientes do ensino médio público, em geral deficitário, foi igual ou superior aos da rede particular. O bom aproveitamento dos alunos da rede pública nas aulas de graduação fica mais evidente ao se considerar o desempenho deles no vestibular: eles tiveram notas melhores em apenas 4 dos 55 cursos. Ou seja, começaram o ano em desvantagem, mas se recuperaram durante o semestre. A presença desse perfil de alunos entre os aprovados cresceu 22% no último vestibular, devido a um programa inédito que concedeu pontos extras aos alunos das escolas públicas. A Unicamp buscou, com isso, colocar dentro da universidade estudantes que ficavam de fora por questão de poucos pontos.

"Os resultados do primeiro semestre mostram que eles realmente possuíam potencial", diz o coordenador-executivo da Comvest (comissão que organiza o vestibular), Leandro Tessler. "Atacamos o mito de que a escola pública baixa o nível da universidade. Aqui, até melhoramos nosso corpo discente." Foram avaliados os desempenhos de 2.829 ingressantes deste ano, sendo que 931 ganharam bonificação. O estudo foi finalizado na semana passada. A vantagem apareceu até mesmo no disputado curso de medicina. A nota média dos estudantes bonificados, em todas as disciplinas do período, foi 7,5, ante 7,2 dos demais. A maior diferença ocorreu em física, em que os estudantes da rede pública obtiveram 5,4 de média, contra 4,6 dos demais (variação de 17%).

Mas como um aluno que possui uma formação escolar inferior e condições socieconômicas piores consegue tirar notas melhores na universidade? Para os autores do levantamento, as próprias dificuldades fazem com que os estudantes tenham maior capacidade de adaptação e saibam lidar melhor com situações adversas. "Acho que o aluno de escola pública tem mais orgulho de estar em uma universidade pública", afirma Flávia Rodrigues, 22, aluna que se beneficiou da bonificação para ingressar em história.

Já a coordenadora da carreira de medicina, Angélica Maria Bicudo Zeferino, afirma que a instituição tenta não fazer distinção dos alunos no dia-a-dia, para evitar discriminação. Mesmo assim, ela relata: "Os alunos de escola pública se esforçam muito no curso". Caio Buni, 20, é um exemplo. As aulas de seu curso, ciências da computação, terminam depois das 23h. Para conseguir acompanhar o curso, ele costuma ficar até por volta das 3h da madrugada nos laboratórios. "Faltou uma base melhor no ensino médio". "A hipótese de que o estudante de baixa renda se esforça mais é plausível, mas ainda faltam estudos aprofundados sobre isso", diz o antropólogo João Baptista Pereira, professor emérito da USP e presidente da comissão que estuda políticas de ação afirmativa.

(*)Repórter do jornal Folha de S. Paulo. Matéria publicada em 22/12/2005.