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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

domingo, outubro 02, 2005

VESTIBULAR NÃO DEVE SER O ÚNICO FOCO

Especialistas afirmam que também é preciso se divertir, dormir e comer bem

Simone Harnik (*)

O relógio avança e, a cada minuto, os vestibulares ficam mais próximos. Ao mesmo tempo, o corpo começa a reclamar após meses de esforço e de longos dias dedicados aos estudos. À beira do esgotamento, algumas dicas de alimentação e de saúde podem amenizar o cansaço e evitar a chamada "outubrite" -crise que afeta os vestibulandos no mês mais cansativo do ano.
A prova disso é Morena Figueiredo Abdala, 18, candidata a uma vaga em direito depois de um ano de cursinho. "Neste ano, estou conseguindo levar os estudos de uma maneira mais tranqüila e saudável, com qualidade. Sinto que, no ano passado, não aproveitava tanto o que eu lia", conta. "A diferença de um ano para outro foi ter mais horas de sono e mais garra. Quando você não passa uma vez, fica mais determinada."
Não é só o sono que merece cuidado. Milton Glezer, clínico-geral do Hospital das Clínicas e do Albert Einstein, recomenda, além das sete ou oito horas bem dormidas, uma alimentação balanceada. "É bom ter uma dieta com menos calorias e maior valor protéico. Na hora de digerir alimentos muito calóricos e pesados, o corpo desvia sangue para a digestão e diminui o fluxo para o sistema nervoso central, que é o que o aluno mais precisa para estudar.

Suplementação alimentar, segundo o médico, e produtos como pó de guaraná ou café não são recomendados. "É até bom evitar o café para ficar acordado, porque isso acaba diminuindo o grau de atenção", diz. "Também é muito perigoso fazer uso de medicamentos anfetamínicos, que criam dependência. Às vezes, o efeito é o contrário do esperado: em vez de ficar mais alerta, a pessoa fica acordada, mas dispersa."

Hiperfoco
Mas ficar atento e concentrado não é sinônimo de esquecer do resto da vida. "Quando você fica angustiado, é porque está apostando todas as suas fichas em uma coisa só e fica engessado naquilo. Isso não pode acontecer", afirma a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Maria Irene de Matos Maluf.
A psicopedagoga diz que é preciso manter a vida social e familiar, fazer atividades físicas, se divertir, ir ao cinema, ao teatro, ouvir música, pois, se o aluno deixa isso de lado, as dificuldades e o cansaço podem vencê-lo.
"O estudante não pode hiperfocar no vestibular. Se ele fizer isso, o exame se torna tudo ou nada. Alguém com essa ansiedade não vai conseguir fazer uma boa prova", afirma Irene."

O psicoterapeuta Leo Fraiman, especializado nos problemas dos jovens na época do vestibular, explica que o estresse é uma reação do organismo com aspectos fisiológicos (como a liberação de adrenalina), mentais e comportamentais, levando ao aumento da irritabilidade, por exemplo. "Não podemos viver isentos de estresse, pois ele nos prepara para reagirmos quando há uma ameaça."

Ele até mostra um lado positivo: "Ficar estressado, até certo ponto, é o que faz a pessoa competitiva. O importante é se observar e se perceber. Se permitir comer, dormir, chorar e se divertir durante a preparação para as provas".
Um dos aspectos negativos do estresse exagerado é a ocorrência de "branco" na prova.

Incertezas
Além de se preparar, prestar atenção nas reações do próprio corpo e da mente, os especialistas ainda enfatizam a importância de perceber que o vestibular é apenas uma fase na vida. Para o coordenador do Anglo, Ernesto Birner, esse é um dos aspectos mais relevantes para ter sucesso.
"Até o terceiro ano do ensino médio, o aluno vivia no mundo das certezas. Ninguém competia com ninguém. Já o vestibular é o mundo da incerteza. O choque é muito rápido, muito brusco", diz. Para ele, ter consciência disso ajuda os jovens a encararem o vestibular com mais naturalidade, já que, dessa fase da vida em diante, o mundo das certezas e da proteção não existe mais.

(*) Repórter do caderno Fovest, do jornal Folha de S. Paulo. Reportagem publicada na edição de 27/00/05.