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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

sexta-feira, junho 13, 2008

SOBRE GRAUS DE INVESTIMENTOS

André Perfeito (*)

Reza a lenda da sabedoria do mercado financeiro que tudo sobe no boato e cai no fato. Muito sabido isso aí; bem entendido de quem faz da vida especular expectativas suas e de terceiros mediante, é claro, comissão modesta e bem paga. Está certo. Sobe no boato e cai no fato. Bem, isso não é apenas um privilégio do mercado financeiro, a vida – mais pra mais ou mais pra menos – fica por isso mesmo: entre boatos e fatos. Todo esse introdutório é para falar de um boato que tem
rodado pela banca e entorpecido uns tantos e tantas por aí. O boato é que chegamos lá! Que o Brasil é Investment Grade e que agora, agora sim, o país deslancha. Vatapá, carne seca e MP3 Player para todos! Este boato é bem feito. Ele diz que depois de arrumarmos a casa, de termos feitos a lição de casa e de termos penado feito vaca no brejo todo o esforço valeu à pena. Todo boato, você sabe, tem um fundo de verdade.

Boato vai de boca em boca feito piada; ninguém sabe quem falou primeiro. Mas quem falou primeiro sempre sabe. Só que esse boato a gente sabe quem soltou. Foram a S&P e a Fitch, agências de classificação de risco. Disseram ok e as trombetas tocaram. Ninguém esperava no Brasil essa notícia. Os economistas e analistas esperavam só para o fim do ano a nota por dois motivos básicos. A situação fiscal está instável por conta do fim da CPMF e do PAC acelerado e o mundo está no meio de uma crise financeira e inflacionária séria.

O que será que eles (S&P e Fitch) viram que ninguém mais viu? Desconfio cá comigo que eles viram o que dá para ver do próprio quintal, ou seja: sua própria horta. O Grau de Investimento é necessário para que fundos de pensão, gigantescas poupanças privadas, possam investir em um país. Caso contrário a gestão destes fundos não tem autorização, mandato, para aplicar neste ou naquele país. O grau de investimento "assegura" que somos bons pagadores e que, principalmente, nossa economia tem tal dinâmica que garante este pagamento.

Não sei você, mas não tenho tanta fé num horizonte de tempo maior que seis meses para o Brasil. Muito pode acontecer: câmbio, inflação, juros só pra fica no feijão com arroz das commodities. Me parece que o fato é outro. E o fato é...

Os fundos de pensão por lá estão enfrentando sérios problemas atuariais. A população envelhece, os encargos aumentam e estes fundos não conseguem uma remuneração adequada por lá. As economias de lá andam em compasso de espera, sem o dinamismo do passado, e com rentabilidades baixas. Os fundos precisam de mais, caso contrário as velinhas do Arkansas e os jovens de Londres ficaram a ver navios. Não quero dizer que isso foi de caso pensado (processos, processos...), mas que muitas agências de classificação de risco têm errado redondamente isso elas têm. E, no mais das vezes, sempre alguém ganhou com o erro delas. Espero que elas estejam certas dessa vez. Mas não me iludo com boato e o fato é: não existe almoço grátis. Brasil, abre o olho.

(*)Colunista do jornal Destak, artigo publicado na edição de 13/06/2008.