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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

sexta-feira, junho 23, 2006

CIDADANIA

COMBATE AO RACISMO A CURTO PRAZO EXIGE INVESTIMENTOS DE R$ 67,2 BILHÕES

Cristina Charão (*)

Para acabar com a discriminação racial estrutural, o Brasil precisa investir R$ 67,2 bilhões. O dado é um dos vários destacados pelo Instituto Ethos no manual "O Compromisso das empresas com a promoção da igualdade racial". A publicação lançada hoje em São Paulo marca a entrada da organização no debate específico do combate à discriminação por raça. O cálculo foi realizado pelo economista e pesquisador da UnB (Universidade de Brasília) Mário Theodoro, e considera o custo para igualar os níveis de acesso em educação, habitação e saneamento das populações negra e branca. De acordo com o levantamento, concluído em novembro, a questão da habitação demandaria o maior investimento, algo em torno de R$ 37,4 bilhões. Isso apenas para igualar o déficit de moradias, que entre os negros é de 4,2 milhões de unidades e para os brancos, 2,3 milhões.

Em educação, seriam precisos outro R$ 22,2 bilhões para nivelar índices como as taxas de analfabetismo entre adultos e o acesso à universidade. Medidas relacionadas ao saneamento demandariam mais R$ 7,6 bilhões. O economista sustenta que este "custo do racismo" é um dado em aberto e seu valor pode aumentar com a inclusão no cálculo de outros elementos, como acesso à saúde, segurança pública ou emprego e renda. Aponta, porém, que estes R$ 67,2 bilhões são o gasto necessário para a equiparação entre brancos e negros a curto prazo.

Segundo Theodoro, "é um volume com o qual o Estado brasileiro tem toda condição de arcar". Ele compara o valor a montante acumulado pela União como superávit primário para pagamento da dívida. De acordo com o economista, o investimento proposto equivale a 75% do superávit registrado entre janeiro e setembro de 2005. A editora da publicação, Nilza Iraci, lembra que o dado é polêmico. "Não pelo valor, mas porque causa perplexidade quantificar o racismo, demonstrá-lo através de dados oficiais", disse a jornalista, ativista da ONG Geledés - Instituto da Mulher Negra.

Para o professor de Finanças da Universidade São Marcos e presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade, Hélio Santos, falta incluir nesta conta o impacto do preconceito sobre a possibilidade de crescimento econômico e desenvolvimento do país. Santos afirma que falta um modelo econométrico que calcule "o custo de oportunidade que recai sobre o País por perder tantos talentos".

A inclusão da população negra no mercado de trabalho é, no fim das contas, o resultado esperado da campanha que o Ethos assume com o lançamento do manual. A publicação tenta sensibilizar o empresariado com dados como os apontados por Theodoro e outros pesquisadores e ativistas do movimento negro. Aponta, ainda, propostas de ações específicas a serem adotadas pelas empresas.

(*) Repórter da Folha Online, publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 31/05/2006